Mergulhei para a imensidão do fundo do mar porque queria conversar. Sempre faço isso. Um pouco antes, sob um céu azul e o sol forte e brilhante, a dúvida de ir para água com ou sem os óculos escuros. Fui. Era um chamado, descobri depois. Entrei na água e, quando deu, fui para este outro mundo. Aí aconteceu. Veio a força, como se fosse um ataque impossível de conter e me tirou algo. Emergi. Sem o óculos. Ainda consegui senti-lo com a ponta dos pés, ali embaixo, na areia. Mas ele foi embora antes que tentasse apanhá-lo. Meu óculos preferido, formato redondo, armação de metal, quatro lentes, duas escuras que levantavam e eu mostrava para quem queria mostrar os olhos, estes que se mostram direto para poucos. Veio um instante de desânimo, mas assim que voltei para a areia, algo tomou conta e lembrei. Dois de fevereiro foi quinta. Dia dela. Com quem converso sempre que chego no seu domínio, não importando o tempo e a temperatura. E ela gosta de oferenda. Tinha me esquecido disso e a viagem para esta nova conversa foi sem planejamento – veio um convite e a decisão. Que felicidade! Ela me chamou, fui e um objeto que eu gostava muito se foi. Para a rainha do mar. Iemanjá. Saravá