Cansei. Juro que tentei. Caí na lorota de batalhar por um mundo melhor. Mifu. Tomei drogas na Vila Califórnia e no festival de Águas Claras. Me amarrei em árvores, dei tiros contra gorilas verdes e agentes da CIA. Enfiaram agulhas embaixo de minhas unhas e queimaram meu saco na cadeira do dragão. Sem lenço e sem documento acreditei no Caetano – e caí do cavalo. Escrevi um livro e foi antes do ponto final que me toquei. Não sujei a tela com o tal. Apaguei tudo. Fui para o pico da Neblina, olhei a imensidão em volta e ouvi o barulho dos tratores, das motosserras, dos milhões de índios trucidados por balas e doenças – e também o canto dos caciques bêbados. Voltei para a cidade e o espancamento diário das notícias acabaram por me soterrar de vez. Não dou o tiro no céu da boca porque vai sujar o tapete que ganhei de mamãe. Agora, ali do outro lado da janela, um canário da terra me olha. Chego perto e ele não se assusta. Então, eu digo: sem árvore, sombra e paz o homem segue destemido em sua busca da ignorância absoluta.