8:50Hora da Reza

de Fernando Muniz 

        Apesar do frio e da vizinhança degradada, a igreja permanece de portas abertas, a mostrar santos e cruzes para quem atravessar a praça, convidando a todos a tirar o peso das costas em um ambiente calmo, digno, cercado por velas e vitrais.

Nos bancos um fiel aqui outro ali ouvem a prédica, embalados pela voz um tanto esganiçada do padre, recém-ordenado, a tatear seu rebanho.

Na última fileira, encoberta pela luz lá de fora, uma mulher, ou melhor, uma senhora toma assento, de casaco comprido e botas, maquiagem um tanto borrada e a carregar uma bolsa pequena, quase uma frasqueira. Parece descansar de uma longa caminhada, ou de alguma tarefa sofrida.

O sacristão, quase da idade do padreco, percebe a nova fiel e vai se sentar ao seu lado. Ela dá uma pequena risada e recolhe a frasqueira do banco, feliz por receber atenção.

– A senhora precisa de alguma ajuda?

– Eu? Não… – pensa um instante, olha para os lados, examina o rapazote e, furtiva, cochicha em seu ouvido:

– Quer um amorzinho? É barato!

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