Rogério Distéfano
Estava em sossego, a saborear o latte, obra inigualável de Michele, barista do Nougat, quando a mesa é invadida por Stélio Natário de Souza. Stélio é burocrata antigo, que nasce, renasce, morre e remorre nas administrações que num momento entusiasmam os paranaenses e em seguida trazem decepções profundas e antipatias invencíveis.
Stélio se diz tecnocrata, pois sempre atuou na área técnica – na técnica de conseguir dinheiro para as campanhas do chefe. Do chefe ingrato, além dos cargos, só recebe o sarcasmo: “Stélio Natário de Souza, falso até no Souza”. Stélio engole o chiste, fiel ao chefe e Natário com o mundo. Nesse nível ninguém cospe, sempre engole. Para não interromper o fio da miada, continuo.
Não tenho, não tive, não quero intimidade com Stélio Natário, sentimento reciprocado. Deve ter sido a solidão que o trouxe à minha mesa. Folha de S. Paulo na mão, indignado com a ordem de prisão de Eike Batista, alvo da Lava Jato por pagar propina ao governador Sérgio Cabral – quem não, estive por perguntar. Estranhei a indignação, sempre achei que Stélio aprovasse propina.
“Passei por isso, até hoje tem fofocas sobre minha honestidade, vivo de aposentadoria” (não disse qual). Dava pena ver aquele homem outrora poderoso, senhor absoluto de aditamentos e reajustes, combalido pela frustração. Fui tocado pela empatia: ‘Calma, irmão, sei como é. Lembre dos Mamonas Assassinas – te passaram a mão na bunda e você não comeu ninguém’.