Ultimamente não estou achando mais nada; toda vez que acho me perco, disse um. O outro, a cinco mil quilômetros de distância: eu não me perco porque nasci perdido. Irmãos. De sangue, como costumam encerrar suas cartas escritas e enviadas pelo correio, porque assim é que gostam. Um escreve a Bic. O outro, a Parker 51, tinta azul lavável. Faz tempo que não se vêem. Sentem saudades, mas mais importante é que o amor/amizade que estava trancado dentro das respectivas gaiolas blindadas da alma aflorou depois que ultrapassaram quatro décadas de existência. No fundo do coração sabem que se alguém triscar em um, estará acendendo um pavio atômico no outro. Estão velhinhos, mas de bem com a vida. Seriam capazes de repetir o feito daquele filme lindo do David Linch – o da longa viagem que um senhor fez para visitar o irmão que não via há muito tempo – em cima de um tratorzinho cortador de grama. Linha reta. Coisa simples. Esse dois, perdidos, se acharam a si próprios – e ao mais próximo.