Rogério Distéfano

O prefeito Rafael Greca baixou hospital um dia depois de empossado. Embolia pulmonar, segundo o boletim oficial benigna, temporária, não inabilitante. A embolia, portanto, preserva o êmbolo do prefeito. A gente aqui costuma brincar dizendo que Greca brinca com a saúde. Aos sessenta, quando a maioria de nós vai à academia, Rafael cai de boca nos acepipes de sua posse temático-regional: empadas do Caruso (as únicas no mundo recheadas de azeitonas com caroço), pés-de-moleque, paçoquinhas, dúzias de pirogue, tudo empurrado goela abaixo com gengibirra Cini. Não há Rafael Greca que resista ao que foi servido na posse de Rafael Greca.

O prefeito precisa perder peso, algumas arrobas. Seus pulmōes clamam pelo esforço aeróbico, mínimo que seja. Renunciará à gula, o maior de seus pecados capitais? Difícil, nem a vaidade, outro de seus capitais pecados, tem força contra a gula. Aproveitar o aviso, tomar uma licença e voltar revigorado à prefeitura? Qual o quê, jamé, como diria MinhaMargarita (doravante nome político na terra da luz dos pinhais).  Significaria passar o cargo ao vice. E passar o cargo ao vice significaria expor-se a risco maior que a embolia pulmonar. Significaria expor-se ao vírus da sacanagem.

O vírus tem ambiente e etiologia próprias: o gabinete do vice prefeito e a vacância temporária do titular. A maldição dos prefeitos de Curitiba não é o governador sacana. É o vírus da sacanagem, que ataca os vice prefeitos. Ainda que puros e bem intencionados no seu cantinho sem atribuições, uma vez postos no ambiente da interinidade os vices tornam-se marionetes, instrumentos cegos e impotentes do virus da sacanagem.

Nāo há como negar as evidências: o vice Beto Richa atochou no seu titular e nos prefeitos seguintes o congelamento mandrake da passagem de ônibus; a doce Mirian Gonçalves ainda amarga, lamenta e chora seu derradeiro e único legado na interinidade – o busto na praça, o abono de faltas a grevistas e a trolha da futura desapropriaçāo.

Tomo aqui para Rafael a imagem infeliz e suspeita da vice Mirian para Gustavo Fruet. Entre sofrer  titular e entregar o brinquedo (o cargo) ao vice exposto ao vírus da sacanagem, Rafael prefere o vírus da embolia.