Nunca acreditei em Papai Noel porque ele não aparecia lá em casa. Eu pensava que era porque morava nos fundos, numa meia-água dividida em dois cubículos. No outro lado sempre tinha uma família estranha – de baianos a japoneses. Na minha cachola infantil o tal de bom velhinho entrava só na casa de frente, mas ali também não acontecia isso. Na frente moravam meus primos e eles também chupavam o dedo no amanhecer do 25 de dezembro. Depois que cresci achei uma invenção dos diabos essa história, mesmo porque no calor dos trópicos aquele ser do outro mundo era mesmo um ser do outro mundo – mas a data fazia as pessoas puxarem o freio de mão e pensar como humanos. Na adolescência tive ganas de assassinar um, mas era a época da revolta, principalmente com deus, que matei e ressuscitei anos depois. Papai Noel um dia me deu um nó, quando meus filhos já eram adolescentes. Para eles o tal deu de presente minha própria vida para poder olhá-los como deveria. Todo ano, então, passou a ter um feliz Natal.