Meus amigos estouraram os miolos. Com balas ou álcool e o receituário todo de outras drogas. Alguns dos que não enfiaram o cano da calibre 12 na boca, sobrevivem como zumbis por aí. Outros nem se levantam da cama, mas ainda mandam pra dentro o que for possível para entorpecimento completo. Às vezes me pergunto se têm razão, isso quando uma nuvem entra aqui dentro junto com os corvos que teimam em comer as vísceras da alma que resiste. Olho em volta e tudo é triste. Aquela graxa, como dizia meu pai sofrido e sábio ao resumir o que passou durante toda a vida. Como não se matou é mistério – e é lição. Tinha revólver cheio de balas em casa. Na ópera bufa do dia-a-dia, sou romântico num espetáculo, no outro um cavalo louco, mais adiante excremento boiando na fossa lotada. Há ainda a caracterização de anjo iluminado, mas o que segura as asas é um corpo/serragem que se desfaz com rapidez – e basta alguém apontar o dedo, mesmo acusando apenas a minha existência, para que essa fantasia desapareça. Meus amigos estouraram os miolos. Eu tentei de outra maneira – e não consegui. Será que me salvei?