por Elio Gaspari
O ministro Marco Aurélio Mello fez um favor ao Congresso quando tirou Renan Calheiros da presidência do Senado. Entre o momento em que ele se tornou réu num processo a que responde no Supremo Tribunal Federal e a hora em que foi fulminado, passou-se menos de uma semana. No domingo, as ruas gritavam “Fora, Renan”. A resposta desta terça (6) da Mesa do Senado, com o seu “Fica, Renan”, insinua um confronto. O plenário do Supremo deverá apreciar a decisão de Marco Aurélio. Se for confirmada, quem irá para a rua defender os senadores?
Pela primeira vez na história da República as avenidas viram faixas dizendo “Congresso corrupto”. (A da avenida Paulista, imensa, deve ter custado os tubos). Isso jamais aconteceu. Em 1964 marchava-se “com Deus pela democracia”. Em 1937, 1966, 1968 e 1977, quando o Congresso foi fechado, ninguém tinha ido à rua pedindo isso.
A dispersão de slogans é um prelúdio para o “Fora, Temer”. Desde que ele sentou na cadeira de Dilma Rousseff, a sorte colocou a bola aos seus pés dentro da pequena área e em todos os casos chutou para fora ou demorou para se mexer. Nunca é demais lembrar que o Palácio do Planalto, associado a Renan e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articulou um manifesto de 27 líderes partidários blindando o ministro Geddel Vieira Lima. O doutor Maia foi claro: “Nós precisamos que o ministro Geddel continue no governo”. Nós quem?
A política vai péssima, mas ninguém pode acusar Temer de ter prometido uma Câmara e um Senado mais bem qualificados. O mesmo não se pode dizer do seu “dream team” econômico. Afinal, quem elegeu o Congresso foi o povo e quem escolheu a equipe, endossando suas promessas, foi ele. A economia, indo direto ao bolso da população, vai pior. Se houvesse algo pior que o péssimo, já começou a fritura do ministro Henrique Meirelles. Prova disso esteve na declaração de Temer: “Ele tem meu total apoio”. Toda vez que um presidente diz essa frase, o ministro já está coberto de farelo e o óleo da frigideira começou a esquentar.
Numa análise benigna, pode-se acreditar que a Câmara não se livrou de Eduardo Cunha antes que o Supremo a desmoralizasse por uma indefinida solidariedade. A palavra certa em relação a Cunha e a Renan era cumplicidade. Nem todos os que tentaram blindar Cunha e Renan eram seus cúmplices, mas todos os cúmplices blindaram-no.
Circulam vários planos B para a hipótese do “Fora, Temer” depois do dia 1º de janeiro, quando seu sucessor será eleito pelo Congresso. Fernando Henrique Cardoso já foi posto na mesa. (Ele diz que prefere uma eleição direta. Tudo bem, com recessão e Lula candidato?) Cármen Lúcia? Joaquim Barbosa?
Que tal Nelson Jobim? Essa variável teria uma virtude adicional: com sua passagem pelo Ministério da Defesa, ele teria o apoio das Forças Armadas. Essa é a carta de vivandeiras que há meses vão aos bivaques dos granadeiros para provocar extravagâncias do poder militar, como disse o marechal Castello Branco em agosto de 1964 numa inesquecível formulação.
Às vivandeiras, um lembrete: em 1964 o andar de cima encantou-se com Castello. Cinco anos depois escondeu-se debaixo da cama diante da possibilidade de o general Albuquerque Lima, um nacionalista autoritário, vir a ser eleito pelos quartéis, onde era o oficial mais popular.
*Publicado na Folha de S.Paulo
A política paranaense tem muito para contribuir com o Brasil. Nós, que orgulhosamente abrigamos a “República de Curitiba”, temos grandes e imaculados nomes que poderiam perfeitamente conduzir os destinos do país. Imagino o competentíssimo Beto Richa como presidente da República, implantando seu irretocável “Choque de Gestão”. Um articulador como Valdir Rossoni, habilmente negociando com o congresso. Um ministro da Justiça como Fernando Francischini, ou um ministro da fazenda como Luiz Carlos Hauly. Em menos de quatro anos nos tornaríamos uma nova Coréia do Sul. A salvação do Brasil passa pelo Paraná.