por Clóvis Rossi
O presidente Michel Temer esteve neste sábado (3) a momentos de demitir-se do cargo de chefe de Estado.
O chefe, por tradição imemorial, é quem, em tese, está ao lado dos seus nos bons e nos maus momentos, mais ainda nos piores momentos.
É evidente que a alma do brasileiro viveu nesta semana um de seus piores momentos, com a morte dos integrantes da Chapecoense e de toda uma equipe de jornalistas.
Por isso mesmo, qualquer chefe digno desse nome teria tomado a decisão de acompanhar os passos que foram sendo dados para o atendimento aos sobreviventes e para o sepultamento dos mortos, afinal marcado para este sábado.
Tenho a mais absoluta certeza de que animais políticos como Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, para citar apenas dois dos antecessores de Temer que conheço melhor, teriam, de repente, viajado até a Colômbia, como demonstração física e concreta de solidariedade.
Ou, no mínimo, para agradecer ao presidente Juan Manuel Santos, encarnação da Colômbia, a atenção e a solidariedade prestadas aos brasileiros, conforme relatos absolutamente unânimes da mídia.
Viajar à Colômbia seria extremar, admito, a noção de chefe de Estado como representante do sentimento da pátria. Mas, no mesmo minuto em que se marcou o velório coletivo para a Arena Condá, o estádio da Chapecoense, para o sábado de manhã, o presidente de turno da República teria inscrito a fogo na sua agenda a presença no local.
Temer, não. Só no último minuto, já no aeroporto de Chapecó, decidiu finalmente comparecer ao velório, certamente movido pelo fuzilamento sumário que sua ameaça de omissão provocou no jornalismo e nas redes sociais.
Pelo que informou esta Folha no próprio sábado, Temer temia ser vaiado se fosse à arena. Por isso, teria decidido ir só ao aeroporto, zona de segurança reservada e controlada.
Absurdo. Quem entra para a vida pública tem obrigatoriamente que saber que pode tanto ser vaiado como ser aplaudido, um dia ou outro. Pode até ser vaiado hoje e aplaudido amanhã, ao vice-versa.
Fugir, esconder-se, não é digno de nenhum homem público, por mais que uma considerável quantidade de homens públicos brasileiros demonstre não ter a mais leve noção do que é ser republicano.
Fugir é apequenar-se, é demonstrar que não está à altura do cargo a que o acaso o conduziu, em circunstâncias distantes da limpidez absoluta que se exige para ocupá-lo.
A Presidência da República tem o dever de divulgar o nome do assessor que, na última hora, sugeriu que Temer fosse à Arena Condá e, com isso, evitasse o pedido simbólico de demissão que seria a sua ausência.
Saberíamos, assim, que há pelo menos uma pessoa no Palácio do Planalto ou, talvez, no avião presidencial capaz de ter a dimensão do tamanho do cargo e da necessidade de não esconder-se nem fugir.
Imagino que esse assessor conheça a famosa frase do jogador e treinador escocês Bill Shankly, para quem “o futebol não é uma questão de vida ou de morte; é muito mais importante que isso”.
Sensibilidade é preciso.
*Publicado na Folha de S.Paulo
O presidento parece que tem medo de por o pé no chão, de aceitar a realidade que o cerca e de teimosamente reconhecer que até agora não fez nada. E o que fez até agora foram seguidas mancadas. Poucos foram os acertos do presidento e, dentre eles estão o ministro da Fazenda, os presidentes do BB, do BC e da CEF, mais o presidente da estatal do petróleo. Agora ter medo de vaias, apupos, só pode ser coisa de piá pançudo, dono da bola que porque não está gostando do jogo pega a bola debaixo do braço e vai embora. Se este é o caso, presidento, então é hora mesmo de pedir o boné e ir passar as férias de fim de ano na companhia da mulher e do Michelzinho.