por Ruy Castro
Muitas imagens sobre a tragédia do avião que caiu com a delegação da Chapecoense nos acompanharão para sempre. Para mim, é particularmente tocante a do fotógrafo Nelson Almeida, da Agência France-Presse, mostrando o menino com a camisa do clube, sozinho, sentado à arquibancada da Arena Condá, em Chapecó, poucas horas depois de a notícia tomar o mundo. Foi foto de primeira página do “Globo” e de vários jornais estrangeiros na quarta-feira (30).
Soube-se depois que se chama Richard e tem sete anos. Todos nós, homens, jovens, maduros ou idosos que, um dia, tivemos a idade dele e aprendemos a amar um clube, podemos entender o peso de seu desamparo.
Foto de Nelson Almeida/AFP
Já nos sentimos assim quando nosso time perdeu um campeonato com o gol do adversário aos 44 do segundo tempo do jogo final. A vida estancou, morreu, ficou sem sentido. Ninguém sofre mais com uma derrota do que uma criança —porque ainda não teve tempo para assimilar a grande lição do futebol, que é a de nos ensinar a perder. Mas, para nossa sorte, dali a semanas ou meses, vinha mais um campeonato e, com ele, a esperança ou certeza de novas vitórias e conquistas.
O pequeno torcedor da Chapecoense que se vê na foto não terá esse conforto. Seu clube não vai acabar (e pode-se dizer agora que não acabará nunca), mas “aquela” Chapecoense —dos gols de Bruno Rangel, das defesas de Danilo, dos passes de Cleber Santana— não existe mais. A dois passos da glória de um título continental, nunca se saberá se teria sido campeã. A festa que a cidade preparava para comemorá-la não acontecerá.
O menino levará esse vazio por muitos anos, talvez para sempre. E serão necessárias muitas gerações para que, aos olhos das futuras crianças de Chapecó, o dia 29/11/2016 seja só uma página num livro de história.
*Publicado na Folha de S.Paulo