Rogério Distéfano

OS LEITORES DO BLOG devem estranhar a obsessão do titular, Zé Beto, pelas fotos de Bettie Page (1923/2008), a pin up (em português, modelo curvilínea, voluptuosa, bem fornida) norte- americana. Vira e mexe, podem espaçar no máximo dois meses, lá surge a foto dela no blog, poses variadas. ZB é consumado especialista em Betty: tem fotos, leu biografias e reportagens, aguentou até o fim o chatíssimo ‘A mulher do vizinho’, de Tom Wolfe – autor de ‘A fogueira das vaidades’ – só para saber das estripulias da moça. Por estes dias comprou o biopic (bio picture, filme-biografia), estrelado por Gretchen Mol como Bettie.

Não ouso perguntar a ZB a causa e as consequências da obsessão, que a morte de BP só fez aumentar. Sua fixação por Bettie lembra Dana Andrews, o policial que investiga o desaparecimento de ‘Laura’, filme de 1944, de Otto Preminger, com Gene Tierney no papel-título. O retrato de Laura enfeitiça de tal modo o policial que ele acaba por se apaixonar pela vítima sem conhecê-la em pessoa. O filme, um clássico, está no You Tube. Fã incondicional de Gene Tierney, às vezes comparo com ela suas sósias acidentais – que me julgam tolo, pois não a conhecem. Tenho por Gene Tierney algo como o que tem ZB por Bettie Page. Mas benigno.

Se não pergunto para ZB, consultei os colaboradores do blog, gente vivida, lida e experimentada, como Célio Heitor Guimarães. Intensa troca de mensagens – pelas costas do titular -, discussões de fundo e forma variando entre a exaltação do platonismo e os feromônios da adolescência retardada. Decisão de maioria, dois divergiram do relator, o citado Célio Heitor, que entendeu não haver nada lúbrico, erótico, malicioso ou doentio. Veredito simples: ZB tem obsessão pela franja dos cabelos de Bettie. Daí minha divergência. Entendo que a franja funciona como fetiche, como tantos adereços e detalhes que erotizam a imagem. E fetiche é safadeza, indecência.