Na gaveta da memória de um repórter que foi a Chapecó quando o time, fundado em 1973, já se destacava no Campeonato Catarinense, ficou o som matinal do trinar de milhares de passarinhos nas árvores de uma de suas avenidas. A tragédia desta madrugada na Colômbia emudeceu-os. Jogadores de futebol, por mais medíocres que sejam, são grandes artistas – e isso só sabe quem conhece a bola e o dom de controlá-la. Os meninos que disputariam a final da Copa Sul Americana tinham mais que isso – fizeram história. E no avião havia o técnico Caio Junior, ex-jogador nascido em Cascavel, começando a dar o grande passo na nova profissão – e Mario Sergio, um mestre da arte futebolística, canhota privilegiada, também técnico e comentarista de língua afiada… O que há mais nesta gaveta já meio emperrada pelos anos? Foi ali, naqueles poucos dias, que surgiu o DNA de um cartola que se revelou um escroque aqui no Paraná. Saiu de lá fugido num jipe roubado, ele que era vendedor de aço. Prova de que a cidade sabia expelir gente do mal. Também foi ali que, por acaso, o repórter encontrou o campeão olímpico Bebeto de Freitas, que havia sido chamado para montar e treinar um time de vôlei, prova de que aquela gente não brinca em serviço. Que dia triste este de hoje para os chapecoenses, para os catarinenses, para os brasileiros e todos os amantes do futebol no mundo! A alegria da classificação para a final, tão sofrida e emocionante, deu lugar ao silêncio de nós todos – e dos passarinhos de uma cidade que perdeu a maior parte dos seus grandes artistas.