11:23Caviar indigesto

O colunista social é um pária de luxo. Sei o que estou dizendo. O colunista social simula um respeito por pessoas, as quais, no fundo, no fundo, tampouco têm respeito por ele. Em sua maioria, os colunistas são intrusos no circo de excessos, deselegância e vulgaridade que caracteriza aquilo que as páginas que eles próprios produzem tentam vender como jet set, high society ou café society – como se esse ninho de vaidade purpurinada tivesse de fato alguma nobreza a oferecer, de sangue, de conduta e de caráter.

Ai do colunista que eventualmente se deixe iludir pela bajulação; que passe a crer naquela Disneylândia em seus contos da Carochinha; que se agasalhe no prestígio que não é seu, mas do seu espaço; que se arvore a pertencer ao clubinho dos herdeiros ociosos e das dondocas argentárias como se pudesse ser “um dos nossos”. Vai bater com a cara no Country ou do Harmonia, cordialmente blackballed.

Ah, hum, elite, a cujo serviço o colunismo social geralmente se presta, sabe que o o colunista social não passa de um jornalista barato, condenado a conciliar o expediente coruja das festas, das recepções e dos vernissages com a labuta cotidiana do teclado, do celular e do caderninho de notas, gentinha incômoda, de insistência sem noção, querendo às vezes chafurdar mais do que devia, a troco de uma ou outra boca-livre, na intimidade escandalosa da confraria dos privilegiados.

De Nirlando Beirão, na revista CartaCapital, na abertura do texto em que faz reflexões sobre o colunismo social a partir do livro sobre Zózimo Barroso do Amaral escrito por Joaquim Ferreira dos Santos. Em tempo: Beirão foi titular da coluna “Galeria”, do jornal O Estado de São Paulo, de 1991 a 1993.

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