Rogério Distéfano
MARCELO CALERO, o ex-ministro da Cultura, ganha título cum laude de doutor na escola de Juruna. Lembram do cacique Juruna? Na vida parlamentar, Mário Juruna (1943/2002), cacique xavante que fez fama ao gravar as conversas que tinha na Funai cobrando a demarcação de terras indígenas. O gravador, “para registrar tudo o que o branco diz” – porque, dizia, branco não cumpre a palavra. Graças ao gravador elegeu-se deputado federal pelo Rio na década de 1970, legenda do PDT. Se índio apenas se garante do branco, branco, então, simplesmente não confia no parceiro cara pálida.
Porque não se fia no irmão cara pálida, o branco tem cuidado extremo com gravadores. Nada daquelas tranqueiras de Juruna, de fita cassete, enfiados na cara do interlocutor. Com a sofisticação da corrupção e quebra da honra entre os mafiosos, as gravações passam a ser ocultas, os aparelhos disfarçados em óculos, canetas, gravatas, maletas. Não paga a pena resgatar os episódios, tantos são. Bastam dois, como diriam os intelectuais, emblemáticos: o do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, contra seus amigos e protetores José Sarney e Renan Calheiros, e o de nosso herói do momento, Marcelo Calero.
Pressionado por Geddel Vieira Lima, ministro-secretário de governo, a ignorar veto do IPHAN a edifício no qual Geddel comprou apartamento, Calero gravou todo mundo, do indigitado Geddel ao colega Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil. Insulto cumulado à injúria, o presidente Michel Temer acabou capturado na gravação. Nesse passo, reuniões políticas só terão garantia de sigilo se realizadas em saunas, todo mundo nu; sauna seca, pois nas úmidas, como se diz, faz muito bafo. Nus, sim, como nasceram para o pecado original, inclusive sem toalhas. Como são criativos, mesmo pelados, ainda escondem os gravadores. Onde? Não sei, sou índio.
Devem se reunir em um motel, pelados. Quero ver algum partícipe denunciar que esteve numa reunião no motel e pelado.
Ainda bem que todos os nossos políticos são uma tigrada só, porque se alguns tivessem só dois neurônios, se lembrariam de alguns conselhos dados pelo velho Tancredo, aquele avô famoso do Aécio. Ensinava o velho Tancredo, assunto importante não se fala ao telefone e, conversa com mais de um é discurso. Como os nossos políticos são todos uma gentalha só e, como todo mundo já sabe, gentalha não serve para nada que preste.