por Samuel Pessôa
Nas últimas semanas, temos presenciado situação que há até pouco tempo parecia que nunca iríamos ver. Estados, principalmente Rio e Rio Grande do Sul, com enorme dificuldade de pagar suas contas.
A situação dos Estados brasileiros é bem parecida com a dos países da periferia da Europa: em ambos os casos, as unidades não conseguem pagar suas contas imprimindo moeda.
Adicionalmente, o espaço para resolver por meio de emissão de nova dívida é muito pequeno.
Assim, há o risco real de o dinheiro simplesmente acabar. O Judiciário pode sequestrar a conta do Estado e ameaçar colocar o governador e/ou o secretário da Fazenda na prisão. Inútil. Não aparecerá dinheiro no cofre do Tesouro estadual.
O maior problema é que, assim como foi no caso com a União -que pode solucionar seus problemas inflacionando a economia-, a dificuldade fiscal é estrutural. A crise econômica só agravou o problema.
Tanto no Rio quanto no Rio Grande do Sul, a política salarial irresponsável agravou o problema que já seria particularmente ruim pelo maior envelhecimento desses Estados. No Rio, houve o erro adicional de os governos considerarem permanentes as rendas petrolíferas, contrariamente a toda a evidência histórica.
A natureza estrutural do problema deve-se ao regime de previdência estadual. Benefício vitalício integral para as carreiras com aposentadoria após 25 anos de contribuição: PM e professores da rede.
Houve, em seguida à redemocratização, enorme esforço de profissionalização do Estado brasileiro. Fez parte do esforço de profissionalizar o serviço público a contratação de funcionários de carreira concursados. A primeira onda de concursos pós-redemocratização ocorreu na década de 1985 a 1995. Considere o ponto médio da série, 1990, e somam-se 25 anos até 2015 -a conta das aposentadorias chegou!
O deficit total dos Estados com a previdência, que era de R$ 49 bilhões em 2012, subiu para R$ 77 bilhões em 2015. Crescimento de 58%. Considerando a inflação, o crescimento real anual médio no período foi de 8,7%!
Nem crescimento chinês paga essa conta.
Temos um problema dramático: a sociedade distribuiu benefícios e direitos a pessoas, principalmente servidores públicos, incompatíveis com a capacidade de crescimento e de arrecadação da economia que suporta a sociedade. Que fazer? Elevar ainda mais os impostos e, com isso, aumentar as amarras ao crescimento, já tão baixo há tantas décadas?
Os Estados terão de rever direitos. Se não o fizerem, os benefícios e os salários não serão pagos, simplesmente porque o Estado não pode imprimir dinheiro.
A União não irá intervir: a intervenção é prerrogativa do presidente da República, que não o fará, pois a intervenção em um Estado bloqueia a tramitação de toda emenda constitucional, por determinação da própria Constituição.
Se os Estados insistirem em não se ajustar e tentar jogar no colo da União o custo político da desorganização que ocorrerá em razão do não pagamento dos salários dos servidores da ativa, a União poderá utilizar as Forças Armadas para a segurança. É esse o jogo.
Não parece que os Estados terão poder de barganha para jogar para a União o desequilíbrio de seus gastos. O problema das finanças estaduais não é o gasto com dívida, mas o gasto com folha incluindo inativos.
*Publicado na Folha de S.Paulo
Acho muito 10 a situação que a maioria dos nossos estados se encontram hoje,os chefes dos Executivos destes estados nunca se importaram com os gastos futuros, os sucessores que se lascassem. E agora estão se lascando. Mas secretarias existem para planejar o futuro das contas públicas, não é para isto que existem, foram criadas? Não, engano meu, foram criadas para lá abrigarem os apaniguados da classe política. Quando a grana acaba os chefes dos Executivos tomam o avião e seguem para Brasília. Lá depois de alguns almoços, peregrinações pelo ministério dono da grana, ou saem com a dita grana, ou vão para o costumeiro beija mão com o cara sentado no trono do Palácio do Planalto. Chefes do Executivo de estados mais relevantes, que tem bancadas mais afinadas com o cara, dificilmente saem de mãos vazias, Outros menos afortunados, “tem bancadas muito rebeldes”, saem com promessas que não passam disto. Então hoje temos o que temos e com péssimas perspectivas de solução imediata e até remota, em resumo, sem solução à vista.
Já quebramos faz tempo, estamos no limite do limite do cheque especial e não tem mais dinheiro.
Este estrago levaremos décadas para consertar, se mudarmos…porque como somos hoje, nada vai mudar e viraremos uma Argentina na economia e um Haiti nas condições humanas…