A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
(Chico Buarque, Roda Viva)
Rogério Distéfano
ENTREVISTA DE MICHEL TEMER ao programa Roda Viva. Não agradou como esperava o entrevistado, que continua a falar português com sotaque de Napoleão Mendes de Almeida, o autor da famosa gramática dos anos 1960. Perguntas amenas, tão amigável a tertúlia, que só faltou a mesa e as cervejas entre os jornalistas e o presidente.
Um dos jornalistas, Ricardo Noblat, do blog mais lido no país, tem sido criticado pela pergunta que fez a Temer: “Como o senhor se apaixonou por dona Marcela?”. Saí para um vapt-vupt nessa hora, a pergunta soou íntima demais, imprópria, qualquer coisa maliciosa, considerados o ambiente, a finalidade da entrevista e acima de tudo a diferença de idade entre ‘dona’ Marcela e o marido. Em tempo: em construção o ‘doutora’ Marcela. Afinal, é bacharela.
Noves fora, Noblat fez a única pergunta pertinente da noite. Sim, porque o resto da fala de Temer foi empulhação, acordo entre amigos, enrolação, jogada para tapar o sol com a peneira – como aquilo de dizer que a prisão de Lula abalaria o país. Ou seja, o constitucionalista presidente dá um pitaco no Judiciário e de quebra manda um recado para a base que o sustenta no poder na base da cumplicidade (porque todos, de cima abaixo, em maior ou menor grau, estão enrolados na Lava Jato e lutam para se safar das consequências).
A resposta pra pergunta ‘como o senhor se apaixonou pela dona Marcela’ é moleza. Queria saber é qual atrativo de Michel que encantou nossa primeira-dama.