por Célio Heitor Guimarães
A recente declaração da direção do Metrô de São Paulo, em manchete do jornal Folha de S. Paulo, confirma, de forma descarada, a hipocrisia da administração pública.
O prefeito eleito da capital paulista João Doria havia anunciado que pretende manter congelado o valor atual da passagem de ônibus (R$ 3,80). É uma daquelas promessas de campanha que, no correr do tempo, se mostrará impossível de cumprir. No entanto, o diretor financeiro do Metrô, integrado à gestão Alckmin, logo manifestou a sua preocupação: o congelamento da passagem de ônibus, segundo ele, poderá “afugentar” os usuários da rede sobretrilhos.
Aí se revela a verdade que pauta os administradores públicos: o Metrô, assim como os demais serviços públicos, não existe para atender as necessidades dos cidadãos, o bem comum, mas para gerar divisas, dar lucro!
E os administradores públicos viram homens de negócio, onde, como advertia Rubem Alves, não há lugar nem para a beleza, nem para o tempo da vida. Fraternidade e humanidade, então, nem pensar. Tudo deve ser transformado em lucro.
Caso as atuais tarifas do Metrô paulistano sejam reajustadas, como de praxe, no início de janeiro, o diretor financeiro José Carlos Nascimento garante que a companhia de transporte metroviário perderá clientes. E exigirá um aumento de subsídio por parte do governo do Estado.
O mesmo Rubem acima citado dizia que, por mais que se esforçasse, não se lembrava da última vez que ouviu alguma coisa inteligente da boca de um político. Parafraseando-o, digo que, apesar do esforço, não me lembro quando vi uma medida de governante que beneficiasse a população. É só aumento de sacrifícios, cassação de direitos, menos vantagens, mais impostos. E muita falsidade.
A farsa, aliás, é generalizada. Em todas as esferas de governo. No caso em pauta, todo o transporte coletivo, seja sobre pneus ou trilhos, aqui ou acolá, é subsidiado. E como os governos não têm dinheiro, a conta continua sendo paga por todos nós, usuários ou não do serviço público. Com as distorções de sempre. Como na “gratuidade” de certas passagens ou a certos passageiros, como idosos, policiais militares, carteiros e estudantes. Essa “gentileza” não é oferecida pelas empresas concessionárias, muito menos pelo governo. O chamado “passe livre”, como se sabe, é sustentado pelos usuários que pagam a tarifa integral. Esta tem um custo adicional para compensar aquela “generosa gratuidade”.
Na Europa, na maioria dos países civilizados, o transporte público é subsidiado pelo Estado. Muito mais do que no Brasil. Mas comparece-se a qualidade do que temos aqui com o que os europeus têm lá. Não há sequer condições de comparação.
Este, no entanto, é um tema no qual é inútil insistir, posto que, com as regras vigentes e os políticos que temos, não se chegará a lugar algum. A não ser ao manicômio e a uma camisa de força.
Rubem Alves dizia que se perguntássemos a um profeta hebreu “o que é política”, ele nos responderia: “É a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas”. No Brasil, política seria definida como a arte de enganar o próximo.
P.S. – E a vitória de Trump? Nada a declarar. A não ser que o império de Tio Sam retomou a sua verdadeira face de senhor do capital, senhor do mundo, senhor dos escravos, exterminador de forasteiros, desafeto dos vizinhos, misógino, homofóbico, racista, arrogante, nefasto e perigoso.
Se eu fosse meteorologista, minha previsão no momento, não apenas para os EUA, como para o mundo em que vivemos, seria de tempo fechado, sujeito a tempestades e furacões; horizonte indefinido, sem expectativa de melhora no decorrer do período.
Te cuida, Estátua da Liberdade!