Rogério Distéfano
OS MILITARES são a instituição melhor avaliada no Brasil, acima de 50% de apoios na pesquisa desta semana. Longe dos políticos – lá em baixo -, da presidência da república – abaixo do mais baixo. Na fotografia saíram melhores que a magistratura, também plena de prestígio. O mundo é mesmo um moinho, sempre a triturar sonhos mesquinhos, o maior, salvar o Brasil sem que nada façamos a respeito. Os militares têm boa cotação porque levaram trinta anos na sombra, purgando os pecados da ditadura.
E os políticos, são execrados por quê? Simples, por causa dos militares, que pouparam os piores durante a ditadura. Certo, muitos foram cassados, alguns presos, outros poucos mortos. Raríssimos a ditadura atingiu pelo motivo que hoje tira o prestígio dos políticos, a corrupção. A ditadura preferiu atingir os de esquerda, supostos simpatizantes do comunismo da Guerra Fria, e os que tinham votação que em eleições abertas minassem os projetos da ditadura. Boa parte, a mais expressiva, dos corruptos de hoje são sobreviventes daquela época.
Portanto, ditadura militar não resolve, como vai no íntimo de quem elege os militares como a instituição mais confiável. Militar é confiável quando vence guerras, e desde que volte à caserna sem cobrar dívida eterna, como aconteceu depois da Guerra do Paraguai. Em tempo de paz, nossos militares policiam eventos internacionais no Rio, o Rio, sempre em guerra civil, à espera de um Duque de Caxias. No mais, brigam se os aviões do Exército não são operados pela Aeronáutica. Desmatamento e defesa do território da Amazônia? Neca de pitibiriba.
A magistratura está no topo da avaliação, perto dos militares. Por quê? A resposta é Sérgio Moro e Deltan Dall’Agnol (aqui por metonímia, o espécime referindo o gênero). Antes disso – continua assim – era a magistratura de sempre, conservadora, formalista, morosa e cautelosa diante do poder – mesmo com o julgamento do Mensalão, mero incidente de inação. Sérgio Moro não mudou a magistratura; ele constrange a magistratura, obrigada a validar sua mão pesada nos tribunais, e a mimetizá-lo entre colegas de igual hierarquia.
A ditadura militar aposentou alguns juízes, os destemidos que concediam habeas corpus e absolviam os perseguidos. Em certa altura, bem cedo, os militares fizeram como Alexandre e o Nó Górdio: tiraram a magistratura dos delitos políticos e jogaram os políticos para a sua justiça, a militar. A magistratura hoje prestigiada ficou limitada aos crimes chamados não políticos e às questões corriqueiras da sociedade burguesa, como diria o neo-esquerdista PT. Poupada do desprestígio na ditadura, a magistratura acabou deificada na constituição de 1988.
Portanto, o prestígio da magistratura, conforme a pesquisa, tem mais da superficialidade e do imediatismo com que é vista pelo povo – ia dizer ‘o brasileiro’, mas lembrei dos EUA e Donald Trump. O povo, qualquer povo, sempre tem, em maior ou menor grau, a aspiração messiânica. Não é problema do povo, é problema do messias, incutido no inconsciente coletivo. A magistratura foi aquinhoada com status e privilégios na constituição de 1988. O povo não percebe isso. A magistratura não percebe que precisa corresponder ao que recebe do povo.
Corresponder à expectativa não significa justiça militante, engajada, alheia a direitos e garantias. Seria deturpação, a mesma de que acusam o juiz Sérgio Moro – será que ele acha que para merecer os privilégios de classe deve corresponder à expectativa geral de justiça? Mas o Moro celebrado na pesquisa não é toda a Justiça que o povo aspira. Sua justiça é apenas um momento de acerto de contas historicamente adiado. Um mínimo desequilíbrio nas relações de poder em Brasília leva Sérgio Moro ao sacrifício.
Bravo, Rogério!