20:01ZÉ DA SILVA

Queria aquela alegria. Vinha descendo a rua com um carrinho de bebê e o sorriso iluminava tudo, mesmo a calçada suja como as roupas dele e seu gorro listrado e encardido. Se passava alguém ou um carro ao lado, acenava. Sempre rindo. Olhei de longe e fiquei curioso para saber como era a criança que ele conduzia – e que às vezes olhava, erguendo um cobertor depois de parar o carrinho. Uma mulher, curiosa como eu, tentou se aproximar. Ele apertou o passo e seguiu. Parou numa esquina e do bar surgiu uma mão com um copo de cerveja. Era conhecido por ali. Tomou num gole só, limpou a boca com as costas da mão e andou até sumir numa curva. Fui lá perguntar sobre aquele pai e aquele filho. Não havia criança, me informaram. O dono da alegria que eu queria achava que sim – e sobrevivia assim, num mundo só dele e do bebê.

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