17:58ZÉ DA SILVA

Um dia ela olhou e notou na unha do dedão do pé direito. Uma manchinha. Não ligou. Mas a coisa não parou de se alastrar. Uma mudança de estado, o mar perto, e a coisa ali já começando a coçar na borda do dedo. Fungo. Diagnosticado. Começou a ter medo. Já falava em unha podre, aquele ser tomando conta de tudo. A unha e o tal criando vida própria. Um dia acordou apavorada no meio da madrugada. Imaginou ter sido degolada pela lâmina da unha – ou os dois juntos, a unha o corpo e o fungo a alma. Na outra noite jura que ouviu uma fala vindo lá de baixo: “Cansei de sustentar todo esse corpo, pisar no chão frio e me abafar dentro de meias chulezentas. Chegou a sua hora, humana!” Tentou dormir. Ouviu mais: “Agora resolveu morar na praia, com mijo de cachorro espalhado pela areia… bem, pelo menos tenho umidade para sobreviver e me vingar”. No outro dia foi ao posto de saúde. Recomendaram arrancar o incômodo. Ela nem pediu anestesia.

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