17:37ZÉ DA SILVA

Vou pro céu. Ganhei meu passaporte nos quatro anos do curso primário. Colégio de freiras. Envelopinho pardo recebido na sexta. Colocar o dinheirinho dobrado para depositar na sacolinha da missa de domingo cedo. Cada presença, um carimbo de comparecimento. Quatro carimbos, uma estrelinha, que não era vermelha. Vermelho é cor do diabo. Ai que medo desde as lições do catecismo, aquele, não o outro, o do Zéfiro que apareceu um pouco mais tarde e fazia a gente tremer. A paixão pela freira só de rosto descoberto. Padre, eu pequei. Padre, eu peco. A hóstia consagrada e grudada no céu da boca. Não, não pode mastigar, porque senão sangra. Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! E eu com todos os medos que vieram do escuro de onde nasci. Não precisava mais. A revolta da adolescência era esperada. Matei Deus. A família apavorada. Depois, Ele me salvou. Recuperei a vela da primeira comunhão. Mamãe guardou. E o quadrinho com o anjo da guarda. Oremos.

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