por Ivan Schmidt
Errei feio no comentário da semana passada, ao imaginar que na eventualidade do “voto útil” na eleição para a prefeitura de Curitiba, o candidato naturalmente beneficiado pela desistência de muitos eleitores da opção por Rafael Greca, seria o atual prefeito Gustavo Fruet.
Na verdade foi apenas nas últimas pesquisas divulgadas antes do primeiro turno (Ibope e Datafolha) que o candidato Ney Leprevost apareceu em segundo lugar, ultrapassando o estafado Gustavo Fruet, conduzido por arrancada fulminante a disputar o cargo no dia 30.
Numa análise serena o que se pode perceber da eleição para a prefeitura é que o caudal de votos do primeiro e segundo colocados (Greca e Ney) teve origem no estrato populacional que trafega, sem nenhum demérito, de algum ponto do centro para outro da direita, muitas vezes sem ter a menor consciência de que tal postura tem a ver com o que chamam de ideologia.
Assim sendo, a maioria avassaladora de 65% dos votos do eleitorado da capital procedeu da mesma fonte assinalada por histórico conservadorismo. No último dia 2 esse eleitor não titubeou em digitar os números dos candidatos escolhidos para o segundo turno.
O eleitor curitibano que causara surpresa ao eleger Roberto Requião prefeito (os tempos eram outros) não demorou a refluir e dar exclusividade a candidatos de baixos teores políticos como Jaime Lerner, o próprio Rafael, Taniguchi e Beto Richa.
Por mais que tentasse o PT, por exemplo, jamais teve a chance de eleger o prefeito de Curitiba, a não ser por meio da aliança com Gustavo há quatro anos, que tardiamente impôs ao prefeito o pesado revés da derrota e, mais uma vez deu forma à acachapante ojeriza curitibana aos usos e costumes do partido pelo qual o honrado deputado Tadeu Veneri foi para o sacrifício. Provavelmente o último.
Nesse momento, a vocação curitibana por políticos de centro-direita está mais acesa do que nunca recebendo uma clara chancela, porque seja qual for o escolhido no final do mês, o pensamento majoritário do eleitor mais ortodoxo da cidade estará plenamente corroborado.
Pode-se admitir, por outro lado, que provavelmente a população curitibana inventou um novo tipo de discernimento ao substituir o voto útil pelo voto “arrependido”, carreado pela forte desidratação da candidatura de Rafael Greca nas últimas horas, embora a recuperação de preciosos pontos no dia da eleição.
Esse voto arrependido, que não deixou de ser útil a Ney Leprevost, mas fez enorme falta a Gustavo Fruet, como erradamente supôs o escriba reconhecendo sua indisfarçável preferência pessoal, foi assumido por eleitores mais jovens e de maior escolaridade, provavelmente menosprezados ética e moralmente pela estapafúrdia declaração sobre os moradores de rua, além da ainda não esclarecida querela suscitada pelo sumiço dos móveis históricos da Casa Klemtz.
Não se pode tapar o sol com a peneira e tampouco jurar de pés juntos que parcela substanciosa da população curitibana, em se tratando de pobres, moradores de rua, prostitutas, bêbados, drogados e outros desajustados que integram a paisagem humana em qualquer longitude, pense de modo diferente do antigo prefeito, que obviamente teve sua declaração rebatida à enésima potência, por estar disputando o maior cargo político do município.
Talvez seja oportuno lembrar a essa altura a não menos cabulosa declaração do então presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, constrangido a renunciar para não ser impichado, que apesar de todas as irregularidades cometidas afirmava sentir-se plenamente respaldado pela camada populacional identificada como “maioria silenciosa”.
Greca teve a infelicidade de verbalizar perante professores e alunos da PUC, sua antifranciscana visão de como vê a miséria em que vivem milhões de pessoas (e pode pagar um preço alto por isso), muito embora possa confessar na intimidade que a maioria maciça de seus eleitores pensa exatamente da mesma forma.
Desde a noite e início da madrugada de 2 para 3 desse mês, o candidato Ney Leprevost logo ocupou amplos espaços na mídia, passando a ser tratado como uma espécie de “preferido” dos editores políticos. Um especialista em pesquisas de opinião pública, Murilo Hidalgo, declarou na Band que vencendo ou não a eleição no dia 30, Leprevost é o grande vitorioso da temporada, sobretudo por sua espetacular atropelada nos estertores do primeiro turno.
Ainda não existem indicativos de pesquisa sobre a intenção de voto na segunda rodada, e no momento em que escrevo os candidatos não se manifestaram de forma concreta sobre o projeto de governo, a não ser as platitudes costumeiras como “ouvir a população” e/ou “campanha limpa e propositiva”.
A hora é do discurso objetivo, abstraído o rebarbativo da oratória gregoriana como observou dia desses, judiciosamente, o colunista Aroldo Murá. Vai ganhar o candidato que souber falar diretamente aos corações e mentes, e não apenas tagarelar promessas requentadas.
PS – Com a pensata de hoje completo 150 presenças semanais no Blog do Zé Beto, a quem agradeço a confiança e o espaço altamente privilegiado. Aos leitores, pela undécima vez, peço desculpas pelo raciocínio não raro canhestro e infinitamente pobre.
Não seja modesto, Ivan. O nosso ZB sabe que você é uma das boas coisas do blog dele. Ademais, o ignorante está, hoje, um pouco abaixo de você. Parabéns pelas 150 presenças. E que elas continuem para todo o sempre.
O azar de uns sempre é a sorte de outros. Na eleição passada um morto conseguiu o milagre de sobreviver e ser eleito prefeito de Curitiba. E não é que raio insistiu e caiu de novo no mesmo lugar? E novamente o franco favorito vai perder. porque uma eleição que já estava nas mãos se perdeu por arrogância do favorito, e excesso de “sinceridade”. O ex-prefeito se continuar nesta senda de perder eleições vai ficar como o irmão do Álvaro, o cara se acostumou a perder eleições.