por Célio Heitor Guimarães
Depois de ler os meus escritos da semana passada (“Que diabo de moléstia é essa?!”), meu estimado amigo Dilson interpelou-me a propósito da “diversidade de pensamentos”. Indagou se “não estaríamos buscando [no caso eu, pessoalmente] a unanimidade burra” dita por Nelson Rodrigues. E reforçou a interrogação: “Será que as pessoas citadas não têm o direito de pensar como pensam, sem perder o nosso respeito? Que pensem, por convicção, como quiserem”.
Estou de acordo com o meu bom amigo. Em tese, estou de pleno acordo. Mas, no caso concreto, como diriam os juristas, a coisa é um pouco diferente. Os exemplificados Jânio, Chico, Boff e Veríssimo sempre tiveram convicções político ideológicas claras, bem definidas e de conhecimento público. Não me consta que as tenham modificado. De igual modo, nunca foram petistas oficialmente. Tinham lá, como boa parte dos brasileiros, certa admiração e esperança no ex-metalúgico Luiz Inácio Lula da Silva e, por decorrência e respeito ao grande líder, assimilaram o “poste” Dilma.
O tempo e a conduta dos personagens esclareceram a verdade dos fatos. E não houve necessidade de convencimento por terceiros. É suficiente pensar com a própria cabeça. Jânio, Chico, Boff e Veríssimo nada têm de ignorantes nem de inconscientes e muito menos de ingênuos. Ao contrário, são pessoas inteligentes, que têm vidas de luta e de trabalho, repletas de grandeza e dignidade, em prol de um Brasil maior, mais democrático, mais igualitário e mais justo. Isso é indiscutível. Como podem, então – no meu indagar –, continuar seguindo uma liderança que se revelou, à saciedade, falsa, mal-intencionada e perniciosa? E continuar repetindo a estúpida história do “golpe”? Isso é coisa para o menino Lindbergh, que continua sendo apenas um líder de assembleias estudantis e para as obstinadas senadoras Vanessa e Gleisi. Golpe?! Mas que golpe? Dilma caiu porque chefiava um desgoverno podre, sem rumo e sem futuro, que quebrou o Brasil e desmoralizou-o aos olhos do mundo. Quem diz isso não sou eu. São os dados estatísticos, inclusive os oficiais.
Golpe?! Que golpe? O impedimento da “presidenta” seguiu todos os trâmites legais e constitucionais, sob o controle do Judiciário. Nossas instituições estão rotas? Estão. Mas são as que temos. Temer assumiu?! Tinha de assumir. Era o vice-presidente da República. Escolhido por quem? Por Lula, por Dilma e pelo PT. E eleito. Sim, eleito. Pelos mesmos eleitores que elegeram Dilma. É incompetente para governar? Possivelmente. Mas é o que temos. Ou, por outra, foi o que Lula, Dilma e o PT nos deixaram. Se golpe houve, foi dado por Lula, por Dilma e pelo PT. Francamente!… – como dizia minha velha tia.
Cada um é livre para pensar. E para mudar de pensamento, meu querido Dilson. Não me consta, porém – repito –, que Jânio, Chico, Boff e Veríssimo tenham mudado o deles. Nem mesmo depois do pleito eleitoral de domingo passado e do sepultamento nacional do PT e de suas infectadas lideranças. É evidente, contudo, que optaram, como muitos outros, como o notável Sebastião Salgado e os jornalistas José Trajano e Juca Kfouri, por um caminho estranho e tortuoso, só para continuar solidários a Lula e a Dilma.
Sei que a ignorância – como já havia dito na semana passada –, é minha. Mas eu só queria entender.
ZB, impressão minha ou temos pombo novo na praça?