Rogério Distéfano
DIZIA-SE QUE quando Rafael Greca disputou a primeira eleição de prefeito os marqueteiros amarravam-lhe as mãos para que os gestos do candidato não ofendessem o imaginário viril do curitibano. Com suas mãos e a mão dada por Jaime Lerner, Greca foi eleito. Hoje carrega nas tintas no que diz que fez como prefeito. As mãos são aceitas, sempre nédias, mais balofas, os dedos, salsichões de chucrute. Agitadas, descrevem no ar em parábolas as hipérboles de seu discurso.
Mas a língua, ah, a língua de Greca, essa ninguém amarra, trava ou segura. É incontrolável – e necessária, se não, como faria campanha? Porém, a língua sempre ameaça matar Greca, pois em atos-falhos prega peças no candidato. Quem o acompanha, lembra as melhores passagens. A de que mais gosto, a recomendação aos garotos de rua para não fumarem: “cigarro deixa as gurias feias e os piás, broxas”. À mulher que reclamava do cheiro de esgoto: “Minha senhora, manilha não caga”.
Que dizer das proverbiais comparações? Dos mendigos ao vagabundo de Charlie Chaplin e dos catadores de papel aos homens-cavalo. Essa agora, de que vomitou ao dar carona para morador de rua, faz de Greca o escracho de sua oposição. É o vale-tudo da campanha, que a quem acompanha Greca não choca. Aliás, atire a primeira pedra quem cheira e gosta do chulé do sem teto que dorme debaixo da marquise. O povo gosta de suas expansões, acostumou-se a vê-lo como figura folclórica. Afinal, tantas se foram, restou ele.
Os casos do interventor Manoel Ribas são contados até hoje – se saiu algo em livro, peço a Célio Heitor e a Ivan Schmidt, esses ratos de alfarrábios, que me avisem. Se Greca sobe nas pesquisas e nos ameaça com quatro anos de carnaval e momices, pode ter aí o saudosismo curitibano ao prefeito das futilidades e criancices. Isso acontece, sempre aconteceu. Não sei por que o marqueteiro não inventou marchinha para ele, igual à do “Retrato do Velhinho”, que pedia a volta de Getúlio Vargas.
O curitibano parece não ter assimilado o tom litúrgico e o modo hierático com que Gustavo Fruet leva a prefeitura (a prefeitura, não a campanha). Disse e repito: Fruet parece o bom funcionário que foi promovido a prefeito por merecimento. Para que, como diria o juiz Sérgio Moro, não pairem dúvidas, e ao azo do momento, o escrevinhador afirma em público e raso que odeia Carnaval e vive em permanente e angustiosa nostalgia do catolicismo perdido. A bom entendedor meia palavra bos…
Pedido feito, pedido atendido, caríssimo Rogério: “Desvendando Manoel Ribas – O Homem, a Obra, o Mito” foi escrito por F. Fernando Fontana, casado com neta do ‘seu’ Maneco, e editado pela Fecomércio do Darci Piana no ano passado. Abraço.
Obrigado, Célio.
Com a preguiça dos leitores de ler até o fim e esses seus começos de texto louvando o Greca você está é fazendo campanha dele.