Rogério Distéfano
Ademanes não contam
O candidato Rafael Greca não pode usar o título de urbanista na propaganda eleitoral. Urbanista é atividade privativa de arquiteto, embora Rafael tenha os ademanes* da turma. Dirigiu uma cidade e trabalhou no instituto de urbanismo da cidade. Mas não é urbanista, falta-lhe o diploma de estilo. A justiça eleitoral deu ganho de causa ao adversário contra a propaganda de Rafael, a seu ver enganosa. Só assim para pegar os enganos de Rafael.
Quem ganhou? Os advogados, mesmo os que perderam, porque lhes sobram os honorários e os frutos futuros. Quem perdeu? Nós, os eleitores, expectadores silentes e passivos da guerrilha de frufrus. Tanta firula e perfumaria lançada por Rafael, tanta coisa que ele diz que não cola, puro papo furado e o adversário se pega exatamente na trucada de urbanista, que não fede nem cheira. Temporal na xicrinha.
*Ademanes, do esp., ‘trejeitos’.
Indissolúvel enquanto dura
Fátima Bernardes/William Bonner, Angelina Jolie/ Brad Pitt, casamentos que se desmancharam, eram pétreos, invejáveis. Motivo? Expresso à Balzac: cherchez la femme, a invasora do budoá. Casamento sólido, sim, é o de político, nunca acaba. Múltiplos interesses, opimos frutos, eleitorais mostly.
Vide os herdeiros na campanha de prefeito, como tantos nesta república com fumos de monarquia. E o ex-prefeito e atual candidato, Rafael Greca, de casamento tão indissolúvel quanto irremovível, cimentado como o lavatório-chafariz do Sítio São Rafael, dacha do candidato. Se acabar, ainda assim continua. Complicado remover o cadáver.
Matias, primeiro as tias
O PP, o partido do qual o ministro Ricardo Barros é sócio majoritário em comunhão de votos com Cida Borghetti, sua mulher e vice-governadora, distribui dinheiro do fundo partidário para os candidatos a prefeito.
A distribuição não foi exatamente igual, muito menos rigorosamente justa: o Paraná, base do ministro, que tem menos deputados, recebeu mais dinheiro que outros Estados, com até o dobro de deputados federais pepistas.
A igualdade não foi igual entre os iguais nem entre os mais iguais: Maria Victória, filha do ministro e da vice-governadora, candidata em Curitiba, recebeu R$ 305 mil contra os R$ 250 mil passados a Sílvio Barros, candidato em Maringá, irmão, cunhado e tio dos três outros nobres do Principado de Maringá.
Ao azo da ocasião
“Não olvida o julgador que, entre os acusados, encontra-se ex-presidente da República, com o que a propositura da denúncia e o seu recebimento podem dar azo a celeumas de toda a espécie. Tais celeumas, porém, ocorrem fora do processo” – despacho do juiz Sérgio Moro sobre as reações ao processo contra Lula.
Tão solene e pomposo o juiz Moro que senti um arrepio ao ler suas palavras. Aquilo de “não olvida o julgador”, na soberana e inalcançável terceira pessoa, mais o “dar azo a celeumas”, de tempero e sabor edson fachiniano, me transportaram ao Conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queiroz.