por Dirceu Pio
Um amigo, antigo morador de Curitiba, contou-me o que houve com a relação de Jaime Lerner e Rafael Greca, estremecida há muitos anos: em 2002, depois de uma bem sucedida gestão na prefeitura de Curitiba, Greca foi bater à porta de seu guru e mestre, Lerner, em busca de apoio para sua pretensão de lançar-se candidato a governador.
Bateu com a cara na porta: Lerner estava comprometido com o PSDB, que o havia apoiado nas eleições anteriores , e apoiou a candidatura derrotada de Beto Richa.
De vingança, Greca lançou-se no apoio a Roberto Requião. Tanto para Lerner quanto para seus parentes e amigos foi um pecado mortal. Nem o Papa Francisco seria capaz de perdoar.
O tempo passou e, ainda há poucos dias, Greca, candidato a prefeito de Curitiba a fim de obter apoio para sacramentar sua vitória nestas eleições, foi novamente bater à porta de JL. Desta vez, a porta foi-lhe aberta: o candidato foi recebido cordialmente pelo urbanista, mas foi só; Greca saiu sem o pretendido apoio.
Diz-se na cidade que, ainda que Lerner decidisse apoiá-lo, amigos e familiares teriam vetado. São feridas abertas na política sem tempo para cicatrização.
GRECA, O SINCERO
Imagino que boa parte dos milhões de eleitores de São Paulo invejem Curitiba nestas eleições; a safra de candidatos a prefeito de São Paulo é uma das mais fracas da história eleitoral paulistana, a começar pelo “poste” Fernando Haddad plantado por Lula há quatro anos. Haddad concorre à reeleição e já esta virtualmente derrotado.
A vitória pende para João Dória, do PSDB, que além de proporcionar essa rima rica, de urbanista mesmo só tem a longa experiência de organizador de eventos internacionais a empresários. Se colocar o consultor empresarial José Marins como seu assessor (os dois são parceiros em programa de TV) arrisca cometer uma boa administração.
Voltando a Curitiba, Greca—e talvez seja por isso que deve vencer, talvez em primeiro turno—é o discípulo que mais sintetizou a visão de urbanista de Jaime Lerner.
Ele já disse em público que não gosta de pobre—“A última vez que coloquei um pobre no carro, vomitei por não suportar o mau cheiro”—mas ainda assim, disparadamente, é o melhor candidato, até porque, como diria Dante Mendonça, o melhor cronista da cidade, não deixará nenhum filho como sucessor.
O eleitor curitibano sabe também que um prefeito não pode mais agir em desrespeito a tudo aquilo que a cidade conquistou e os pobres poderão dizer a Greca, de dedo em riste, você terá de nos engolir com cheiro e tudo.
Meu caro Pio:
Participei da campanha que elegeu Rafael Greca,
no ex-túdio do Milagre de Nova Trento, que, no acerto
de contas, ficou me devendo dois mil dólares.
Rafael é compadre do acadêmico, distinto cavalheiro da terra
de Madre Paulina.
Abrax!