Rogério Distéfano
UM PREFEITO tem que respeitar o patrimônio da prefeitura. Não pode fazer do público seu privado. Vale para qualquer patrimônio, federal, estadual e municipal. Envolve desde os valores dos contratos da Petrobras, passa pela correta arrecadação dos impostos estaduais e pode terminar no lavatório de chumbo do tempo do Império.
E aqui me refiro ao item da Casa Klemtz, que o candidato Rafael Greca, agora, 21 anos depois, vira suspeito de ter, quando prefeito, levado na mão grande para atavio do Sítio São Rafael, sua propriedade. A ironia do nome só é oportuna e saborosa. A história é antiga, já a tinha ouvido ao tempo de Rafael alcaide, ainda que sem a especificação do suposto butim.
Como não avançou pelas vias legais, deixei-a no escaninho da memória, sempre a me perguntar quando viria à tona. Não por suspeitar do candidato, longe disso, mas porque sei que políticos descongelam desabonos alheios no momento adequado. O momento surgiu, Rafael Greca está lá em cima nas pesquisas. Como Cartago, destrua-se Rafael.
Rafael pode vencer no primeiro, e indo para o segundo turno compor-se com os candidatos filhos-de-família e seus pais. Já tem padrinho, o governador. Portanto, delenda est Rafael. Hoje, na reta final da campanha, sabe-se que a advocacia da prefeitura entrou na Justiça para reaver os bens supostamente levados da Casa Klemtz pelo então prefeito Rafael Greca.
O fato é de 1995. Em 2002, relatório da Fundação Cultural acusou o desaparecimento dos objetos. Em 2011 o aviso foi revigorado para o prefeito da época. Nada se fez para (1) expor Rafael e (2) para reaver os objetos da Casa Klemz. De 2001, na melhor hipótese, de 2012, na pior, até 2016, nada. Depois do suposto saque, Curitiba teve quatro prefeitos:
Cássio Taniguchi, Beto Richa, Luciano Ducci e Gustavo Fruet. Alguém fez alguma coisa sobre a casa assassinada? Só Gustavo Fruet. Mas num momento nada glorioso: ao fim do mandato. Esqueçamos os prefeitos anteriores. Um deles, hoje governador e apoio decisivo de Rafael, já fez tantas nos dois cargos que nem paga a pena criticá-lo.
Cássio vinha do grupo Lerner, o mesmo de Rafael. Nada faria a respeito. Ducci, sempre de chapéu estendido, até anteontem sonhava ser vice de, ou ter Rafael como seu vice. Resta Gustavo Fruet, que não deixou no frízer o que tinha contra Rafael – o afastamento do IPPUC, com vencimentos, para trabalhar com Roberto Requião, e os atavios e faianças da Casa Klemtz.
Aos supostos podres de Rafael, Fruet deu-lhes a validade do guarda-comidas, o móvel do tempo da Casa Klemtz, onde ficava o que sobrava do almoço para ser consumido no jantar. O que pesou na decisão dos dois processos contra Rafael? A defesa do patrimônio municipal ou o risco de Rafael ser eleito? Preciso responder?
Prefiro a outra pergunta, a elucidativa: se Rafael estivesse em baixa nas pesquisas, Fruet tocaria os processos contra ele? Essa respondo des costas: não, não chamaria, porque Rafael poderia ser valioso, útil no segundo turno. Moral (!?) da história: vamos avaliar os dois candidatos na dúvida quanto ao futuro e na decepção quando ao presente.
Ká ká ká isto só podia vir mesmo deste palerma, mas porquê ele não suspende aposentadoria, segundo ele mesmo e o seu principal secretário como sendo irregular? Não, é mais fácil mandar uma dupla de paspalhos procurar os “tais bens” na chácara, sim é do ex-prefeito mesmo, de Piraquara? Gente, sei que a coisa está feia, mas se rebaixar tanto é um absurdo.