Rogério Distéfano
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O CASAL VIVIA a plenitude da placidez e a placidez da plenitude. Até o momento de sobressalto na placidez familiar. Frequentador do ‘clube’ – assim o chamavam para passar ares de pertencimento e fugir da pronúncia complicada do nome –, o marido é convidado para jogar golfe, ascensão no patamar sócio-clubístico. E novo patamar na vida conjugal. Um problema: teria que negociar em casa. Frequentava o ‘clube’ com a mulher, integrada com as outras ‘esposas’ (título obrigatório). Ela permitiria?
Golfe implicava um dia da semana fora de casa, a suspeição das pescarias, das quais os maridos vêm sujos com o barro do subúrbio e com os peixes do mercado. A mulher, submissa no acessório, no principal a fera defensora do aparato de família. Sabia negociar, era o momento de ter o que o negado no ponto dolorido da repressão conjugal: “Pode jogar golfe. Mas quero dirigir, quero um casaco de peles e usar calça comprida”. Carro novo todo ano, armário atulhado de casacos e calças. Ele, golfista medíocre.