ROGÉRIO DISTÉFANO

COMO DIRIA o Messias, “afasta de nós esse cálice”. Não sei se adianta, Rafael Greca avança. Promete que, eleito, irá manter os programas da prefeitura. Todos, sem exceção. Sabe como é, coerência: metade foi criada por Jaime Lerner, a outra metade por ele. Os prefeitos que vieram depois, ainda que gerados por ambos, só mudaram os nomes. Isso é comum, Roberto Requião é mestre em assumir filhos alheios: o Museu Oscar Niemeyer foi fecundado, parido e inaugurado por Jaime Lerner com o nome de Museu de Arte Moderna (era isso?). Requião assumiu o governo e mudou o nome. Virou pai.

Então, nada dessa frescura de UPA unidades de pronto atendimento para os postinhos de saúde; no governo Greca serão ‘Clínicas 24 horas’, estilo os restaurantes de costelões. Muda por fora, por dentro tudo igual. Greca é criativo: a prefeitura não tem dinheiro, Gustavo Fruet governa à míngua, nenhum real pinga de Beto Richa, nenhum pingou de Dilma. Na falta de proposta nova, uma antiga serve. Gostei. Greca, logo ele, ataca a tendência municipal para o eufemismo. Esse das Ruas da Cidadania, de Jaime Lerner, que não são ruas e a cidadania é a do eleitor engazopado que as freqüenta..

Aliás, Lerner, o criador de Rafael, era o mestre da palavra vazia, desontologizada, como dizia Paulo Leminski no seu tempo de professor. Ópera de Arame – não tem ópera nem arame; Jardim Botânico – jardim sim, mas de botânico só a pretensão de imitar o príncipe Dom João, que fez o dele no tempo de Brasil e Algarves. E a tal Universidade Livre? Esta sequer é universidade – por isso se mete a Livre.

Vindo de Rafael, expungir o rebarbativo é um avanço, dadas sua origem e formação. Dele sempre tivemos o bombástico e o retumbante, como a Nau do Descobrimento, os Faróis do Saber – uma que não navegava, outro que não alumiava. Ele não irá rebatizar os homens-cavalo de almocreves e os subprefeitos de alguazis. O Paço Municipal terá dois ‘ss’. E sua/dele Margarita, sempre será nossa Sinhá. Alvíssaras.