por Gregorio Duvivier
Dona Folha, tá difícil te defender.
Em seu editorial na sexta (2), a senhora diz que se o governo não souber “reprimir os fanáticos da violência”, o Brasil corre o risco de se transformar numa ditadura assim como aconteceu na “Alemanha dos anos 30”. À polícia do Estado de S. Paulo, que já não é famosa pela gentileza, a senhora recomenda que “reprima” mais duramente os “grupelhos extremistas” –porque senão os baderneiros vão tomar o poder e transformar o Brasil na Alemanha nazista.
Concordo quando a senhora diz que uma ditadura se avizinha, mas discordo que são os “black bloc” que vão tomar o poder. Dona Folha, a senhora já conheceu um “black bloc”? “Black blocs” em geral têm 12 anos, espinhas e mochila cheia de roupa preta e remédios pra acne.Concordo que existem muitas razões pra ter medo. Mas não pelas mesmas razões. O vampiro que nos governa acaba de recriar o Gabinete de Segurança Institucional. O ministro da Justiça pede menos pesquisa e mais armamento. Uma jovem perde um olho atacada pela polícia. Uma presidenta democraticamente eleita é derrubada porque teria cometido um crime, mas não perde os direitos políticos porque afinal ela não cometeu crime nenhum. O Senado que a derrubou por causa de créditos suplementares muda a lei em relação aos créditos no dia seguinte à sua queda.
Não sei se por ignorância ou cinismo, a senhora ignorou o fato de a Alemanha nazista não ter sido criada pelos “fanáticos da violência”. Como bem lembrou Bruno Torturra, a Alemanha nazista se consolida quando Hitler culpa os tais baderneiros pelo incêndio do Reichstag e cria um Estado de exceção com o objetivo de “reprimir baderneiros” – igualzinho a senhora tá pedindo.
Quando o Reichstag pegou fogo, os jornais pediram medidas de emergência contra os “baderneiros” em editoriais muito parecidos com o seu. Hitler não teria ganhado terreno sem uma profusão de jornais pedindo “mais repressão aos grupelhos” – jornais estes que, vale lembrar, depois foram proibidos de circular.
O golpe de 64 não foi obra do “extremismo”, mas daqueles que alegavam querer combatê-lo. Quem instaura a ditadura não são os baderneiros, são os apavorados. Só há golpe quando há medo. Quando a senhora contribui com o medo, a senhora contribui com o golpe.
Um jornal é do tamanho dos inimigos dele. Quando a senhora pede maior repressão a adolescentes desarmados, se alinha com o mais forte e faz vista grossa pra truculência. Jornalismo, pra mim, era o contrário.
*Publicado na Folha de S.Paulo
““Black blocs” em geral têm 12 anos, espinhas e mochila cheia de roupa preta e remédios pra acne.”?!?!?
Fala sério, em que planeta de uma galáxia muito, muito distante vive esse imbecil???
Quanto ao trecho em que fala do nazismo, fica claro seu profundo desconhecimento da história alemã pós primeira guerra mundial (confesso que não esperava nada diferente dados os demonstrados limitados recursos intelectuais do autor).
Escrito por quem o escreveu, o textelho não me surpreende. O que me choca mesmo é o pouco caso que faz da inteligência alheia.
Conversa mole de petista, tentando convencer pela repetição de meias verdades.
Ah, e só pra completar:
Um jornal (revista, rádio, blog, etc.) é do tamanho das verdades que diz e da credibilidade e inteligência dos seus elaboradores. Deve alinhar-se aos fatos e às verdades, sejam eles os mais fortes ou os mais fracos, nunca a estes ou àqueles, a não ser que queira, de fato, impor a sua versão da história.
Aliás, nesse aspecto, até reconheço na FSP um certo equilíbrio, ao permitir em suas páginas tanto imbecis como Gregório, quanto imbecis como Reynaldo. Dá ao leitor a diversidade e oportunidade, não de escolha da versão que mais lhe atrai, mas sim de conhecer os dois lados e aprofundar-se na discussão, fora do pensamento raso e superficial dos que se limitam a repetir um dramalhão chorão.
Publicado hoje pela filha do repórter cinematográfico Santiago Andrade, assassinado por black blocs em 2013:
“Eu prefiro acordar nesse dia 6 – um dia depois do aniversário do meu pai e da publicação de um certo artigo – e pensar como Gregório Duvivier. Pra ele Santiago Andrade não existe, não morreu. Aqueles dois mascarados, ele diz, em geral têm 12 anos, espinhas e mochila cheia de roupa preta e remédios pra acne.
Mas, olha, Gregório, pelo menos concordamos em um ponto. Você diz que existem muitas razões pra ter medo. Mas não as mesmas razões. É verdade, te juro. Você está aí, com seu programa bacana, aparecendo na TV e na web, tá aí ganhando sua graninha, até mostrou sua casa bacana para uma revista outro dia. Eu tô aqui, batalhando na vida também, com alguns sonhos interrompidos, carregando o sobrenome Andrade na identidade e no peito. Eu tô aqui, Gregório, lembrando bem do sangue de Santiago Andrade nas mãos, sentindo as feridas com meus dedos e revivendo um rosto tão alegre deformado por um rojão. Uma bomba atirada pelos black blocs, esses aí que você defende em um texto lindo e com português impecável. Esses que você diz não ter medo.
Da próxima vez, só lembra de ouvir os dois lados, princípio básico do jornalista, aliás, da vida. Sai desse ar condicionado e vem aqui que eu te conto quem é Santiago Andrade. Garanto te dar uma aula sobre as verdadeiras vítimas desse seu discurso infeliz e desrespeitoso. Tenha um bom dia, senhor Gregório Duvivier.
E aos dois BLACK BLOCS assassinos de meu pai, a justiça ainda irá prevalecer.”
Vanessa Andrade é o nome dela.