7:10As torcidas organizadas do PT

por Dirceu Pio

Faz mais de quinze anos que, num sábado ensolarado, eu, meu filho Edu e um seu amigo, Edinho, todos corintianos, fomos a Ribeirão Preto (SP) assistir a um Corinthians versus Botafogo.
        Nosso time jogou bem, bateu o adversário por três a zero. Terminada a partida, pra comemorar, demos uma esticada até o centro da cidade a fim de tomar um chopinho bem tirado na choperia mais famosa do país, o Pinguim.
        Chegamos ainda de dia, já havia ali algumas mesas ocupadas por adversários em lamentação.
        De repente, o quase silêncio foi quebrado pela chegada de três ônibus, dos quais – enxergávamos pela vidraça – desciam corintianos atrás de corintianos em incontida algazarra.
        Não demorou muito e ouvimos o coro gigantesco que entrava em bloco no espaço da choperia entoando, a todos os pulmões:

– Tá dominado, tá dominado, o Pinguim tá dominado; tá dominado, tá dominado, o Pinguim tá dominado!

        E repetiam e repetiam o bordão  como se fosse um hino de guerra! Batiam os pés no chão fazendo tremer as paredes!
        Para Edu e Edinho, ambos paramentados com a camisa do Timão (como é chamado, carinhosamente, o Corinthians por seus torcedores) foi um espetáculo bonito de se ver! Eu mesmo fiquei dividido entre a admiração e o medo!
         A primeira preocupação foi bater os olhos na minha roupa – camisa, calça e sapato – para ver se não encontrava algum elemento verde,  detestada pelos corintianos fanáticos por ser a cor de nosso maior adversário, o Palmeiras. Não, não tinha, até porque o verde não é minha cor preferida, exceto na paisagem. Fiquei mais tranquilo, voltei a me concentrar no chope enquanto os torcedores do time adversário se apressavam em pagar a conta e bater em retirada… Seu “território” acabara de ser “tomado de assalto”…
        O Pinguim foi mesmo dominado pela turba de mais de duzentas pessoas que não parava de gritar e entoar novos hinos em homenagem ao Timão…
        Passado o impacto da novidade, nós também nos apressamos em pagar a conta e iniciar a viagem de volta! O convívio com aquela turba de fanáticos não é dos mais agradáveis… Falam alto e os cânticos asfixiam o ambiente e perdem o encanto pela insistência e pelo volume…

 FANATISMO VISTO DE BEM PERTO
        Em 1973, pelo Estadão, como repórter, eu havia trabalhado na cobertura das comemorações da conquista de um primeiro turno do Campeonato Paulista, quando a conquista de apenas meio campeonato foi comemorada como se fosse a quebra do longo jejum de títulos (período compreendido ente 1954 a 1977) que o Corinthians enfrentou e que duraria ainda mais alguns anos para ser interrompido…
        É, digamos, inacreditável o rol de histórias absurdas que consegui levantar: depois da partida final, no Pacaembu, um grupo de 50 a 60 torcedores agarrou-se ao ônibus ocupado pelos jogadores com o propósito de levá-lo, no braço, até o Parque São Jorge, antiga sede do clube, a cerca de 15 quilômetros .
        Houve de tudo naquelas comemorações que tiveram início com o arremesso de rádios de pilha para dentro do gramado; depois da partida, foram encontrados 71 rádios de pilha nos gramados do Pacaembu.
        Pelo menos uma dúzia de fanáticos fazia, de joelhos, o percurso do perímetro do gramado, uma, duas ou 50 vezes, a depender da promessa de cada um… No Parque São Jorge, dois malucos subiram no mastro da bandeira em frente ao clube e tiveram de chamar os bombeiros para retirá-los dali a salvo…
        Falei com inúmeras pessoas que se separaram no casamento porque as mulheres tentavam impedir que viajassem para acompanhar o time onde quer que fosse… Meu companheiro no levantamento era o dono de uma avícola em São Caetano do Sul, Jair, que punha bandeirinha do Corinthians em cada perna de todo passarinho que vendia em sua loja – canários, periquitos, pintassilgos, sabiás. Foi ele que me levou para  os lugares – sede da Gaviões da Fiel, totalmente depredada pelos corintianos em festa, para o Parque São Jorge, etc – e o fez com a devoção de quem cumpria uma tarefa designada por Deus.
        Meu medo, tempos depois, na invasão do Pinguim, era, portanto, justificado, ou seja, o fanático não sabe o que faz… se ele for com a sua cara, muito que bem, se  não for, ele o agride sem tempo de qualquer comiseração…
        Acho que o fanatismo está presente na torcida de todos os grandes times de futebol e as torcidas organizadas são o espaço para o “livre exercício do fanatismo” em seu esplendor. Gaviões da Fiel, Mancha Verde, Raça Rubro-Negra, Independente, etc, são concentrações de jovens e velhos, mulheres e homens, que já não se importam mais com o futebol … Há muito tempo não torcem mais pelo futebol …Torcem pelo clube, pela camisa e outros símbolos … E ai de quem atravessar-lhes o caminho…
        Não gosto e tenho medo de todo fanatismo… e há, além dessas mencionadas, muitas outras razões para temer. Eu era frequentador de estádios desde a época em que as torcidas se misturavam nas arquibancadas…

IGUALZINHO AO PT
        Mas o que são essas pessoas que se vestem de vermelho e ameaçam incendiar o País se não as torcidas organizadas do PT?
        Pessoas que já não brigam mais por uma causa, uma ideologia, um motivo justo. São os fanáticos do PT.
        A ação dessa gente se basta na afronta, na ação pela ação, na coragem, na vibração!
        – Você viu aquela avenida que interrompemos, a quantidade de pneus que queimamos, você viu o estrago que fizemos? – devem ser as perguntas que se fazem após mais uma arruaça.
        Nunca pude imaginar que o PT se transformaria nisso, num partido liderado por ladrões, por saqueadores, cujo aparato de guerra é um bando de arruaceiros e fanáticos !
        São capazes até de se matar e de matar para defender o mandato da “Presidenta” sem nunca se perguntar:

– o que aconteceu de fato na negociata de Pasadena ?

– na construção da Abreu e Lima ?

– na nomeação da ladra Erenice Guerra para ministra da Casa Civil do governo Dilma ?

– na aliança com Paulo Bernardo que roubou dinheiro de aposentados ?

– na aliança com Gleise Hoffman chamada de “Princesinha da Propina” ?

– na Aliança com Lindberg Farias, o senador abjeto ?

– por que as principais lideranças do partido estão presas em Curitiba ?

– por que o “o homem de Ouro” do partido—Zé Dirceu—voltou para a prisão e cumpre pena pesada ?

– por que o líder máximo do partido esconde que é proprietário do sítio em Atibaia e de um apartamento triplex no Guarujá ?

– por que o partido liderou o saque monstruoso à Petrobras ?

– quem matou o prefeito de Campinas, o Toninho do PT ?

– quem matou o prefeito Celso Daniel, de Santo André, e, atrás dele, outras sete pessoas ?

Estas, entre dezenas, centenas e talvez milhares de outras  perguntas, os brasileiros fazem pelas redes sociais e todas elas ficam no vazio sem merecer uma só resposta a não ser a eterna baboseira também chamada de “engana trouxa” ou  “engana fanático”…

TRISTEZA SEM FIM
        É triste ver tantos jovens ou pessoas de bem sendo engolidos e fanatizados por essa quadrilha em que se transformou o partido dos trabalhadores…
        É triste ver um ídolo da grandeza de Chico Buarque de Holanda aparecer na televisão com cara de paisagem para assistir ao Impeachment  sem nunca ter dado uma só explicação por ter emprestado seu nome à defesa de tantas e tantas mazelas.
        Aos poucos o país começa a entender porque não recebe nenhuma resposta minimamente razoável a perguntas que ficam no ar…Porque os fanáticos não precisam e não querem respostas coerentes…querem apenas palavras de ordem, hinos de guerra, vozes de comando que os levem a  ruas e praças ! E isso é o que seu grande líder mais sabe fazer ! A voz de comando já foi dada em discurso que sucedeu ao seu depoimento sob coação…
        Num próximo artigo, escreverei sobre o fermento que o Brasil e suas elites sempre ofereceram para fazer germinar tanto fanatismo!

3 ideias sobre “As torcidas organizadas do PT

  1. Jorge Armado

    Está chegando a hora, caro Dirceu, em que este impávido colosso será dignamente representado por equilibrados e desapaixonados tucanos. Gente do quilate de Aécio e Beto Richa, José Serra. Probos até não poder mais. Com o equilíbrio e a imparcialidade de Gilmar Mendes e os conselhos jurídicos fleugmáticos de uma Janaína Paschoal. Com a altivez de um Michel Temer. E a objetividade política e correta de um Eduardo Cunha. Tudo isso embalado pela trilha sonora incomparável do Lobão. Não é para se ufanar?

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