Tinha saído do prédio antigo dos Correios, no Centro da Cidade, e voltava para o ponto do ônibus que o levaria de volta ao subúrbio. De repente ouviu o ruído. Era uma passeata bem grande, de jovens. Contra o governo, porque a favor não é passeata – é puxa-saquismo. Esperou passar, se encantou com algumas jovens de punhos cerrados gritando abaixo a ditadura. Foi atrás. Pegou a rabeira. Quando o cortejo chegou à praça da faculdade de Direito da universidade, o barulho que se ouviu foi o dos cascos dos cavalos galopando no asfalto. A tropa apareceu babando, descendo o porrete gigante em quem alcançava. Dispersão total. As lojas fecharam as portas. Ele se escondeu atrás de um pilar que sustentava uma grande marquise. Viu uma cabeça arrebentada, um cavalo caindo, a zoeira dos dois lados. Depois, tudo passou. Pegou o ônibus, sacolejou por uma hora, chegou em casa, bateu na porta, a mãe abriu e ele disse: “Sou contra”.