“O Senado vive um momento cretino” – palavras da insuspeita Dilma Rousseff
Rogério Distéfano
O retrato de Dorian Gray
Álvaro Dias, o nosso senador, deu o ar de sua graça ontem no Senado. Falava sobre Dilma e o “impichemã” (ele fala inglês com sotaque de Maringá). O conteúdo não interessa. Tudo igual a todos, tudo igual a Álvaro. Nele interessa a imagem; o resto é som.
A voz vem do ventríloquo dentro dele, a revulsão do diafragma, o parto para a palavra. Mudou o cabelo, domado pela escova, puxado à esquerda, que nem adolescente crespo com recalque de cabelo liso. O rosto algo túmido, botox não assentado?
Álvaro, cinquenta anos de política, mantém-se com rosto de trinta, o manequim dos vinte e cinco. Por que não envelhece? Tem farmácia e bioquímica no pedaço, sem dúvida. Mais o retrato que envelhece por ele, trancado em casa, como o de Dorian Gray.
Chororô 1
Faltou o Felipão ontem no Senado. Só chororô dos craques, tipo seleção de Neymar na Copa. A advogada Janaína Paschoal chorou e pediu desculpas a Dilma. Não por advogar a favor do impeachment, mas pelo sofrimento que causou à presidente como “mãe e avó”.
Toda a fibra da advogada foi por água abaixo, virou mulherzinha mamona. Se não queria ferir Dilma, não pegasse procuração contra ela. Pegou, não tem que ter piedade, dá força a quem critica o ‘golpe’.
Lá do fundo de Janaína veio o falso feminismo: a mulher disputa tudo com o homem, mas não pode ser criticada do jeito que se critica o homem. Aí vira mãe, irmã e avó. Janaína podia passar sem essa.
Chororô 2
Outro chorão foi o advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo. Foi às lágrimas durante a entrevista coletiva depois de fazer a defesa da presidente. A “injustiça histórica” magoou o advogado. O homenzarrão sarcástico e duro desabou, condoído por Dilma e pelo Brasil. Nunca pudemos imaginar o quanto os petistas eram patriotas. Só falta um suicídio para a consagração.
A compota de Lewandowski
Vontade de chorar tive ao ouvir o ministro Ricardo Lewandowski chamando Cardozo: “concedo a palavra ao excelentíssimo senhor doutor José Eduardo Martins Cardozo, advogado da presidenta Dilma Rousseff, ilustre professor e um grande especialista em direito administrativo”. E daí? Muda alguma coisa? Sim, engrossou o caldo da compota.
Elas não se enxergam
As duas piraram, não tem outra explicação. Dilma e Gleisi invocam a misoginia do impeachment. Misoginia é não gostar das mulheres, rejeitando-lhes atributos e qualidades. As duas não se enxergam. Foram eleitas em disputas majoritárias, Dilma duas vezes, Gleisi, uma e ponto final, daqui pra frente não se elege vereadora em Campo Magro.
Que Dilma não pensa, ela deu prova cabal no Senado. Mas Gleisi, apesar da estridência da voz, até que dizia coisa com coisa, embora pouca coisa, na Casa Civil. Chegou ao Senado, desandou. As duas convidam à misoginia. Mas só contra elas, que comprometem a imagem das mulheres. No impeachment chegaram à estratosfera do ridículo.
Esse Rogério é ótimo, um craque na escrita. Morri de rir a descrição do Alvaro Dias . Perfeito.