por Nelson de Sá
Globo e GloboNews acompanharam de helicóptero, desde o Palácio do Alvorada, e depois transmitiram a íntegra do pronunciamento de Dilma Rousseff contra o impeachment, nesta segunda-feira (29), reproduzindo a TV Senado. Foram formais como o processo de impeachment, dando amplo direito de defesa, na expressão tão repisada.
A Band entrou atrasada, mas transmitiu até o fim. A Record entrou com o discurso, mas abandonou no meio –a exemplo do que fez a Igreja Universal de Edir Macedo na política, antes pró-Dilma e agora pró-Temer. O SBT de Silvio Santos, como de costume, nem registrou a notícia.
A “presidente” ou “presidenta”, como a chamou o presidente do Supremo alternadamente, começou também ela formal. Sem consciência aparente do que lia, tropeçando em algumas palavras e frases. Até que chorou, ao falar que “o que está em jogo é a auto-estima dos brasileiros”, frase aliás inexpressiva.
Sua voz embargada foi aplaudida por senadores e plateia, com Ricardo Lewandowski acionando uma campainha para calá-los.
Num trecho que soou como resposta à própria GloboNews, que havia afirmado anteriormente –com repercussão on-line– que seria afastada pelo conjunto da obra, não por um crime específico, Dilma afirmou que “quem afasta o presidente pelo conjunto da obra é o povo”.
Foi o início da metade mais contundente, sem lágrimas, no desempenho da presidente. Atacou “o candidato derrotado nas eleições”, sem citar o nome de Aécio Neves, e o também senador Romero Jucá, também sem citar o nome. Procurava –e conseguiu– evitar respostas.
Atacou ainda o vice Michel Temer, seguidamente e sem nomeá-lo, pelo que fez e pretende fazer no poder. Pelo nome, mencionou apenas o ex-presidente da Câmara: “Encontraram em Eduardo Cunha o vértice de sua aliança golpista”.
Ao terminar o discurso, Globo e Band abandonaram a transmissão e só ficou a GloboNews para a sequência de supostas perguntas dos senadores –oratória partidária, como em qualquer debate na Casa. A partir daí, a impossibilidade de réplica e a incapacidade de Dilma para debater não ajudaram.
Fora do palco de Dilma, as câmeras de televisão foram atraídas por Lula e Chico Buarque, desde a chegada ao Congresso. A própria TV Senado, no sinal retransmitido pela Globo, mostrou os dois, lado a lado, na plateia, ao que parece, não inteiramente atentos à protagonista.