7:19De Fruet a Gilmar Mendes, passando por Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann

por Dirceu Pio

        Nossa história começa na plataforma da balsa que atravessa o Rio Ivaí, na altura de Cândido de Abreu, nos confins do Paraná.
        Nela, viajavam num carro, com um belo dístico da Assembleia Legislativa na porta (AL), dois políticos muito conhecidos, ambos candidatos à reeleição, Maurício Fruet a deputado estadual e Alencar Furtado a deputado federal.   Formaram uma dobradinha, pegaram um carro na Assembleia e saíram para o interior do Paraná com uma agenda lotada de compromissos de campanha.
        Fazia calor e Maurício desceu do carro para tomar “uma fresca”, enquanto seu companheiro dormitava no banco traseiro. Com o cotovelo apoiado no parapeito da balsa, não demorou para que um possível eleitor, morador de Cândido de Abreu, se aproximasse; olhava para o carro e tentava decifrar a sigla que resplandecia ao sol da tarde:
– “A éle”? O que quer dizer “a éle”?, perguntou.
– Arquidiocese de Londrina… Respondeu rápido Maurício ao estender as costas da mão, como que sugerindo que o homenzinho a beijasse… Eu sou cônego e aquele senhor lá dentro do carro é o Arcebispo de Londrina, dom Geraldo Martins… Ele chegou anteontem de Roma onde foi ver o Papa… Está com os bolsos cheios de santinhos benzidos pelo Papa… Vai lá, pede um santinho que ele lhe dá…
        E o caboclinho foi… Maurício continuou à distância, na observação… Demorou pouco mais de um minuto e o homenzinho volta a Maurício para reclamar:
– Êta bispo mal educado, sô!
– Ué, por que?
– Eu fui lá pedir o santinho conforme o senhor falou e ele me mandou tomar no…
– Dá um desconto pra ele, porque ele tá muito nervoso! Nós vamos a Cândido de Abreu resolver o problema de um padre que roubou o dinheiro da Igreja…
– Roubou? Eu sempre desconfiei daquele padre !
        Os dois se elegeram. Maurício faleceu com 59 anos em 1998. Alencar Furtado, um pernambucano que veio fazer política no Sul, foi cassado pela ditadura  por ter denunciado tortura pelo regime militar. Mora hoje em Brasília, onde tem um sítio. Tem 91 anos de idade.
        Essa história aconteceu no final dos anos 70, um tempo em que todos nós ainda podíamos rir das façanhas de nossos políticos; hoje, choramos. São geralmente histórias de roubo, de assalto aos cofres públicos ou de oportunismo. Oportunismo, esperteza, roubo – assim se move o mundo político brasileiro!

ALIANÇAS DESTRUTIVAS
        Mas, para não perder o fio da meada, conto que Maurício deixou um filho, Gustavo Fruet; elegeu-se deputado federal pelo PSDB. Chamou a atenção do Brasil pela coragem e pelo discurso combativo.
        Quis ser o candidato do partido à prefeitura de Curitiba, mas o PSDB negou-lhe a legenda. Oportunista, filiou-se ao PDT, que o recebeu de braços abertos. Ganhou a eleição com apoio – adivinha de quem? – do PT de Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann.
        Por alguma razão que a própria razão desconhece, sua campanha nunca foi alvo do curitibano Sérgio Moro. Se investigarem, é claro que vão encontrar dinheiro sujo roubado dos aposentados (Paulo Bernardo) ou dinheiro de propina do Petroduto (Gleisi Hoffmann)!

PRINCEZINHA DA DILMA
        Gleisi Hoffmann, hoje senadora pelo PT, talvez a mais ardorosa defensora do mandato de sua, digamos, protetora e amiga Dilma Rousseff, ganhou vários apelidos nos últimos tempos, todos impregnados de ironia e escárnio. É chamada de Gleisi Petrolão em inúmeros textos que denunciam, na imprensa, seu envolvimento no escândalo da Petrobras. No Facebook, é chamada de Princesinha da Dilma, Princesinha do Senado e também Princesinha da Propina.
        Pense numa empreiteira envolvida na Lava Jato, qualquer uma delas.  Muito provavelmente estará no enorme rol de empreiteiras que alimentou as burras da campanha da “Princesinha” ao Senado (2010). Seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, era o contato, para não sujar o nome da defensora mais eloquente “da Presidenta”.
        Enquanto escrevo, olho pra TV e a vejo aos gritos, histérica: “Quem aqui nesta casa tem moral para chamar a Presidenta Dilma de criminosa, quem?” Alguns poucos, menos quem faz a pergunta, eu diria. Fez por merecer outro apelido: “Gleisi, a ré confessa” !
        Ela não contava é que seus gritos despertariam a ira do seu colega e presidente do Senado, Renan Calheiros, que no dia seguinte tomou o microfone para desabafar: “Como pode a senadora Gleisi Hoffmann dizer uma coisa dessas, logo ela que deve a mim uma interferência junto ao STF para livrar a ela e ao marido do indiciamento pedido pela polícia federal?!”
        Renan se arrependeria do que disse mais tarde mas não conseguiu evitar que os milhões de brasileiros que o ouviram pela TV concluíssem: devagar, os bastidores sórdidos do Planalto vêm a público com uma virulência de envergonhar.
        Voltando à Gleisi, ela já foi denunciada por vários delatores da Lava Jato, a começar pelo doleiro Alberto Youssef. O Supremo Tribunal Federal deve realizar no próximo dia 30 um primeiro julgamento dela e do marido para decidir em alguns processos que os envolvem se serão ou não réus. Outros julgamentos virão.
        Gleisi é nascida num bairro de classe média baixa de Curitiba (Vila Lindoia); a ascendência alemã deu-lhe o nome, inspirado em Grace Kelly. Formou-se em Direito pela Faculdade de Curitiba e obteve especialização em gestão de organizações públicas e administração financeira na Associação Brasileira de Orçamento Público, e na Escola Superior de Assuntos Fazendários, do Ministério da Fazenda.
        Ainda mantinha o sonho aceso em 2012 quando, ao lado do marido Paulo Bernardo, negociou seu apoio a Gustavo Fruet em troca de reciprocidade para sua pretensão de chegar ao governo em 2018.
        Há, contudo, um juizinho poderoso em seu caminho, em seu caminho há um juizinho poderoso. Quem vencerá? Aguardemos os próximos capítulos.

O MARIDÃO
        Seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, já frequentou a lista dos 60 homens mais poderosos do Brasil, lista organizada pelo jornal Brasil Econômico, fechado para não falir.
        Paulo Bernardo também pôs em falência quase todo seu poderio: não faz muito tempo, esteve preso por envolvimento num caso escabroso – desvio de dinheiro de aposentados que fizeram empréstimos consignados pelo Banco do Brasil. O bando que ele liderava desviou mais de 100 milhões de velhinhos aposentados.
        Quando vi a notícia da prisão nos jornais, escrevi uma nota para o Facebook: “Paulo Bernardo foi preso por roubar velhinhos aposentados, e Gleisi Hoffmann será presa por qual motivo? Por roubar velhinhos aposentados cegos”.
        É o meu jeito corintiano de ser, perco a compostura mas não perco a piada.
        Paulo Bernardo parece encarnar também a nova “Ética” que vem montada numa enormidade de lideranças do PT, algumas das quais continuam presas na cidade natal de Gleisi Hoffmann, Curitiba. Se ele foi capaz de desviar dinheiro de velhinhos aposentados, é de se imaginar o que deve ter aprontado durante sua longa carreira de burocrata a serviço do PT.
        Ele nasceu em São Paulo, mas ainda jovem migrou para o Paraná e não demorou para ingressar nos quadros burocráticos do Sindicato dos Bancários do Estado. No sindicato, filiou-se ao PT e daí em diante, durante a Era PT, se deslocava para as regiões onde o partido ocupava o poder.
        Passou por Londrina, Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde ocupou postos de destaque nas administrações petistas. Deve ter conhecido Gleisi Hoffmann em Londrina e a partir daí, já casados, formaram o “Casal Maravilha” que todos conhecemos hoje.
        Os dois se encontraram primeiro, creio, no governo mal cheiroso do Zeca do PT no Mato Grosso do Sul; depois, já casados, ressurgiram  em Londrina, onde permaneceram por longo tempo;  e, por último, coroando a carreira “esplendorosa”,  voltaram a dividir a mesma cama e o mesmo cofre em Brasília, ela como senadora  e ministra-chefe da Casa Civil no governo Dilma e ele como ministro do Planejamento (Governo Lula) e depois ministro das Comunicações (Governo Dilma).

APOIO ATÉ NO STF
        Uma pena Fernando Sabino ter morrido, porque a vida desse casal daria um romance quiçá mais saboroso que aquele que ele escreveu sobre Zélia Cardoso e seu tórrido namoro com Bernardo Cabral (há sempre um Bernardo metido nesses escândalos que mexem com a República).
        Reparem que no início deste capítulo sobre Paulo Bernardo, escrevo que ele pôs em falência “quase” todo o seu poder. Disse-o bem: “quase”. Vê-se que ainda sobra a ele e à esposa fatias expressivas de poder.
        A prisão de Paulo Bernardo, surpreendente, e sua libertação em apenas seis dias com penas suaves (nem tornozeleira eletrônica terá de usar) abalou e ainda abala os poderes da República, a começar pelo nada impoluto STF.
O responsável por devolver Bernardo às ruas é o super-ultra controverso Dias Toffoli. A liberdade foi produzida por uma só canetada, monocrática, no isolamento de um dos gabinetes do STF.
        A decisão atropela todas as instâncias que o mandaram para a cadeia junto com vários de seus parceiros no desvio de 100 milhões de reais. Dias Toffoli soltou todos eles sem que um só tostão do dinheiro roubado fosse devolvido.
        Dias Toffoli foi advogado do PT, é amigo pessoal de Lula, que o indicou para o STF e já o havia indicado Procurador Geral da União e  presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2013.
        Pode-se dizer, portanto, que o poder do Casal Bernardo/Gleisi emana de Lula que, por sua vez, tem poder emanado do compadrio que deixou nas instituições para as quais nomeou ministros, procuradores, nomes de proa em toda parte.
        Mais recentemente, Dias Toffoli foi citado na delação de Leo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS – o ministro teria usado de seu poder para pedir uma reforma de sua casa em São Paulo.
        Essa história veio a público como resultado dos característicos vazamentos de delações. Agindo sob pressão, segundo se diz, o procurador Rodrigo Janot mandou suspender a delação de Leo Pinheiro enquanto os ministros do STF, tendo como porta-voz Gilmar Mendes, falaram de sua indignação pelos vazamentos e do excesso de liberdade de investigadores e delegados da Lava Jato.
        Quem não sabe o que é corporativismo vai aprender a partir de agora.

2 ideias sobre “De Fruet a Gilmar Mendes, passando por Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann

  1. joão pesado

    Você está enganado. O Fruet fez uma administração exemplar, até para os padrões do Moro. E não teve fortunas de doações de dinheiro duvidoso de Gleisi e Bernardo, como você insinua. Foi uma campanha pobre, paupérrima e ainda com o Ibope sacaneando.

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