Foi uma linda história de amor. Sem preconceito, porque naquele tempo todos podiam cantar nega do cabelo duro e ninguém pensava merda. Ok, foi depois do sucesso dessa música, mas no palco do grande teatro, espetáculo das seis e meia, coisa maravilhosa, primeiro ele cantou o negro gato e deixou toda a plateia com mais vida. Então, ela entrou, no esplendor da alegria, da beleza física, do cantar suave como brisa nas montanhas de Minas, onde se eternizou Xica da Silva. Aí apareceu o guri, descalço, no corredor atapetado, passarela entre as cadeiras de veludo vermelho. Parou bem do meu lado, olhos fixos, eletrizado, tomado pela energia que vinha do palco. Então, no silêncio do público, começou a agradecer, gritando sem parar: “Olha a nega!! Olha a negra!!” Aquilo era mais que elogio. Era a consagração total. Zezé Motta provavelmente não ouviu. Nem Luiz Melodia, que estava ao lado dela. Mas eu ouvi – e jamais esqueci.