por Eduardo Galeano
A leste, a Muralha da China. A oeste, Domingos da Guia.
Nunca houve zagueiro mais sólido na história do futebol. Domingo foi campeão em quatro cidades – Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu, Buenos Aires – e foi adorado pelas quatro: quando jogava, os estádios enchiam.
Antes, os zagueiros se agarravam aos atacantes feito selos em envelope, e livravam-se da bola como se ela lhes queimasse os pés, chutando-a o quanto antes para o alto. Domingos, ao contrário, deixava passar o adversário, investida vã, enquanto lhe roubava a bola, e depois tomava todo o tempo do mundo para tirar a pelota da zona do perigo. Homem de estilo imperturbável, fazia tudo assobiando e olhando par outro lado. Desprezava a velocidade. Jogava em câmera lenta, mestre do suspense, amante da lentidão: chamou-se domingada a arte de sair da área com toda calma, como ele fazia, soltando a bola sem correr e sem querer, porque tinha pena de ficar sem ela.