Do blog Cabeça de Pedra
Tinha uma flor amarela, simples, em cima de pedras de uma calçada. Ela saía da terra, onde estava acompanhada de grama, ervas daninhas, outras nem tanto, e parecia querer beijar o lado bruto, pétreo, brilhante ao sol do meio-dia. A sombra do caule e daquele minúsculo buquê a acompanhava. As pessoas passavam perto, algumas quase pisavam a flor – e ninguém prestava atenção naquilo, apesar de o amarelo parecer a cabeça de um cogumelo de bomba atômica visto de cima no deserto. Sentei perto e fiquei observando. Ver deus seria isso? Eu já vi, mas foi no galho de uma araucária centenária balançando num dia de céu cinza e vento forte. Silêncio. Deus é silencioso, luminoso e nunca fez uma oração para ser decorada. Um menino parou ao lado. Três anos? Se deitou e colocou o rosto perto da flor. Pensei que ia arrancá-la. Não. Ele primeiro a cheirou e depois a beijou. Aí, levantou e foi correndo feliz pela calçada. A mãe enxugou uma lágrima.
Tanta maravilha maravilharia durar, Zé!
Coisa mais bonita.