por Eduardo Galeano
Vindo sabe-se de que região do ar, o tigre aparece, dá seu bote e se esfuma. O goleiro, preso na sua jaula, não tem tempo nem de piscar. Num lampejo, Romário mete seus gols de meia-volta, de bicicleta, de voleio, de trivela, de calcanhar, de ponta ou de perfil.
Romário nasceu na miséria, na favela de Jacarezinho, mas desde menino ensaiava a assinatura para os muitos autógrafos que iria assinar na vida. Chegou à fama sem pagar os impostos da mentira obrigatória: este homem muito pobre deu-se sempre ao luxo de faze o que queria, apreciador da noite, farrista, sempre disse o que pensava sem pensar no que dizia.
Agora tem uma coleção de Mercedes Benz e 250 pares de sapatos, mas seus melhores amigos continuam sendo aqueles inapresentáveis busca-vidas que na infância ensinaram a ele o segredo do bote.