por Eduardo Galeano
Foi em 1947. Botafogo versus Flamengo, no Rio de Janeiro. Heleno de Freitas, atacante do Botafogo, fez um gol de peito.
Heleno estava de costas para o arco. A bola chegou lá de cima. Ele parou-a com o peito e se voltou sem deixar ela cair. Com o corpo arqueado e a bola no peito, enfrentou a situação. Entre o gol e ele, uma multidão. Na área do Flamengo havia mais gente que em todo o Brasil. Se a bola caísse no chão, estava perdido. E então Heleno pôs-se a caminha, sempre curvado para trás, e com a bola no peito atravessou tranquilamente as linhas inimigas. Ninguém podia tirá-la sem fazer falta, e estavam na zona de perigo. Quando chegou à portas do gol, Heleno endireitou o corpo. A bola deslizou até seus pés. E ele arrematou.
Heleno de Freitas tinha pinta de cigano, cara de Rodolfo Valentino e humor de cão raivoso. Nas canchas, resplandecia.
Uma noite, perdeu todo o seu dinheiro no cassino. Outra noite, perdeu não se sabe como todo a vontade de viver. E na última noite morreu, delirando, num hospício.