8:16Sobre Edésio Passos, com tristeza

por Célio Heitor Guimarães

Conheci Edésio Passos quando entrei na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. Ele presidia uma assembleia do PAR (Partido Acadêmico Renovador) e fiquei impressionado com a desenvoltura dele. Ao final da reunião, de repente vi-me “enturmado” em uma mesa do Bar e Confeitaria Cometa (ou teria sido no Pérola?). Senti um calafrio. Estava sem um tostão no bolso. E o pior: como eu era o calouro presente, certamente iriam me fazer pagar a conta. Gelei. Sem outra saída, humildemente confessei a minha situação e disse que não iria fazer nenhuma despesa.

Edésio, que me via pela primeira vez, tomou da palavra:

– O que é isso?! Você é meu convidado.

Minha admiração por ele se firmaria ali e só se ampliaria com o passar do tempo.

Na faculdade tivemos pouca convivência. Ele se formaria naquele ano de 1961. Mas depois fomos companheiros no jornalismo e dele recebi um dos maiores elogios, que ainda hoje me orgulha: “Célio, o seu texto dispensa copydesk”.

Também compartilhamos ideais. Nunca tive a atuação política de Edésio, mas sempre acompanhei a sua trajetória, torci por ele e sonhei os sonhos dele.

Com o golpe de 1964, Edésio foi um dos primeiros soldados da resistência ao regime militar. Foi preso e torturado, mas nunca esmoreceu na luta ou perdeu a dignidade.

Quando da fundação do Partido dos Trabalhadores, Edésio Passos era o PT em Curitiba e no Paraná. Quando Lula vinha aqui e era um simples líder sindical, hospedava-se na casa de Edésio e Zélia. Aconselhava-se com Edésio, fazia planos com ele e caminhavam juntos.

Como bom militante da esquerda, Edésio usava barba cerrada. E fazia cara de mau. Quando foi candidato a deputado federal e passou a aparecer na TV, liguei para ele:

– Amigo, aqui em casa você terá cinco votos. Mas vou lhe fazer um pedido: na TV, faça uma cara simpática e não seja tão agressivo. Como está, você assusta o eleitor.

Não me lembro se ele mudou o semblante. Talvez não. Edésio era o que era. E quem gostasse dele tinha que aceitá-lo assim.

São essas algumas das lembranças que me ocorrem no momento em que fico sabendo, pelo blog do nosso Zé Beto, do falecimento de Edésio Passos. Estou triste e lamento profundamente. Havia algum tempo que não nos falávamos. Sabia dele através do filho André. Soube que tinha um problema mais ou menos crônico no joelho ou na perna, mas nada grave, e não esperava que ele fosse nos deixar tão cedo. Também não faço ideia do que pensava hoje do PT, partido que ajudou a criar com tanto ardor e tanta paixão, e dos antigos companheiros de luta. E, para ser sincero, não quero saber. Prefiro guardar na memória a imagem do grande companheiro de jornada e de ideais, do brilhante jornalista e advogado e do ser humano, que sabia ser doce e generoso, mas também firme e combativo quando se fazia necessário.

Segue em paz, companheiro velho.

Uma ideia sobre “Sobre Edésio Passos, com tristeza

  1. Tudo a ver?

    Na ferida – ele em 1994 fez um discurso contra as Empreiteiras e o PT.
    Mas não largou o osso.
    Não saiu do partido.
    Edesio chegou a ser demitido para colocar um parente do Giacobo (PR) na diretoria administrativa da itaipu, aí ele traiu na votação do impeachment (votou a favor do Fora Dilma) e o decreto da Dilma Roussef foi anulado, e ele voltou ao cargo – onde morreu.
    Não denunciou.
    PREVARICOU.
    Se sabia deveria romper com o establishment partidário.
    E seu filho André Passos – não seguiu o pai.
    E aí vai.
    Depois que morre, vira herói no Paraná e no Brasil.
    Anibal Khury e Edésio Passos – tudo a ver?

    EMPREITEIRAS E EDÉSIO PASSOS

    E no dia 8 de dezembro de 1994, no DCD página 15044, após a derrota de Lulla da Silva para FHC, ele falou o que seria a realidade definitiva do PT sua ligação com empreiteiras, bancos, Marcos Valério, Delúbio Soares, Sindicatos e Fundos de Pensão culminando com a venda das privatizações feita pela Gleisi Hoffmann com Guido Mantega pelo mundo afora: “INSATISFAÇÃO COM AS MUDANÇAS IDEOLOGICAS DO PT, TENDO EM VISTA AS CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS QUE RECEBEU DE EMPREITEIRAS E BANCOS PRIVADOS PARA AS CAMPANHAS ELEITORAIS DE SEUS CANDIDATOS; CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE DESAGREGAÇÃO DO PARTIDO E A RESPONSABILIDADE DOS QUE AINDA DEFENDEM OS PRINCIPIOS QUE NORTEARAM A SUA CRIAÇÃO PARA REVERSÃO DESTE QUADRO.”

    http://www.hlucas.com.br/02032013.html

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