por Eduardo Galeano
Os jornalistas o consagraram como o melhor criador de jogadas do Mundial de 58.
Ele foi o eixo da seleção brasileira. Corpo enxuto, pescoço longo, estátua erigida de si mesmo, Didi parecia um ícone africano plantado no centro do campo. Ali, era dono e senhor. Dali, disparava suas flechas envenenadas.
Ele era o mestre do passe em profundidade, meio gol que se tornava gol inteiro nos pés de Pelé, Garrincha ou Vavá, mas também fazia seus próprios gols. Chutando de longe, enganava o goleiro com a folha seca: batia na bola com o lado do pé e ela saía girando e girando voava, dava cambalhotas e mudava de rumo como uma folha seca perdida no vento, até que se metia entre as traves, no ângulo onde o goleiro não esperava.
Didi jogava quieto. Mostrando a bola, dizia:
– Quem corre é ela.
Didi sabia que ela está viva.
Perguntar não ofende: algum meio campista de hoje mereceria palavras tão belas e exatas de um tão célebre escritor e apaixonado por futebol ?