Numa noite de 1994, os internos da clínica Quinta do Sol, que se localizava no Alto da Glória, de repente viram adentrar à casa um anjo em forma de mulher. Quando falava, então, parecia mais irreal. Conversou com a maioria dos pacientes, que ali estavam para tentar ficar longe das drogas e retomar o controle da própria vida. Ela, artista famosa, tinha ido visitar um parente e, o mais incrível, segundo se comentou depois, é que “parecia gente como a gente”, ou seja, não tinha um pingo de petulância comum às estrelas globais. Letícia Sabatella nunca mudou o comportamento. Se defende a causa política que acha correta, qual o problema? Quem disse que o outro lado é que está certo? Em episódios tristes como o que aconteceu ontem em Curitiba, sempre é bom repetir Nelson Rodrigues: “Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina”.