por JamurJr.
Maria, você ganha esta nota de cinco cruzeiros se for naquela roda de gente com paletó e gravata e apertar o saco do careca baixinho. Saiu caminhando devagar, como sempre fazia, exibindo um sorriso banguela e cara marota. Ficou alguns minutos bem perto da “vítima” e, num movimento rápido, se atirou na direção da genitália do meritíssimo que pulou fora num salto olímpico. Maria era um dos muitos tipos populares que perambulavam pela região da Boca Maldita, numa área entre o Cafe Alvorada na Travessa Oliveira Belo e o Cafe Ouro Verde na Avenida João Pessoa. Esse território democrático era ponto de encontro de personalidades, gente famosa e anônimos de todas as partes que paravam para um bate papo, um cafezinho ou falar mal de alguém. Esmaga, Pinóquio, Gilda, Maria Marcha Lenta eram outros tipos que atuavam por ali, cada um na sua especialidade. Esmaga gostava de ganhar um troco para dar palpite em conversa de políticos. Costumava ficar ao lado de uma roda deles e fazer comentários que não agradavam; “Você é um corrupto, viu?” – dizia na cara do politico. Saía dali para receber a remuneração pela sua atuação. Pinóquio era um protegido do dr. Julio que quase todos os dias lhe dava algum dinheiro para o almoço. “Doutor, dáa um pouco mais que estou querendo ir no jogo do Atlético” – pedia e ganhava. “Mas, doutor, tem algum para o lanche no estádio?” Nessa República democrática de Curitiba , chamada de Boca Maldita por Anfrizio Siqueira, seu mais longevo presidente, encontrava-se em rodas de conversa pessoas como Bento Munhoz da Rocha, Mauricio Schulmann, Jofre Cabral e Silva, sempre falando do seu Atlético, e muitos outros curitibanos, ilustres ou não,que desfrutavam o prazer de tomar um café ao lado de velhos amigos ou novos conhecidos. A Travessa Oliveira Belo, que havia sido transformada pelo prefeito Ivo Arzua no inicio da década de 60, virou um calçadão onde homens (e só homens) se reuniam para conversar. Arzua marcou sua administração por essa obra, a transformação da estreita rua Marechal Deodoro em bela avenida, larga e asfaltada, e esticou a cidade no sentido de Santa Candida com a construção da Avenida Paraná. Mais tarde a Boca Maldita se consolidou tendo o Cafe Ouro Verde como ponto de encontro, especialmente aos sábados, quando centenas de curitibanos se reuniam para trocar ideias, comentários e desaforos contra alguém. Por ali circulavam tipos estranhos, intelectuais, jornalistas, políticos, e esportistas, além dos tipos exóticos que nunca faltam nesses ambientes. Um cidadão alto magro e quase completamente careca habitava a Boca Maldita e frequentava várias rodas com desenvoltura. Certa ocasião apareceu repaginado com uma peruca que mudou sua aparência envelhecida. Não teve muita sorte nos primeiros dias de desfile com a nova cabeleira postiça. Numa passeio entre rodas de conhecidos passou por baixo de um galho de árvore e a peruca acabou enroscada. Rapidamente pegou e colocou de qualquer jeito com a preocupação de não chamar a atenção. Mas, chamou; colou a peruca com o topete frontal para trás.
A Boca Maldita de Curitiba ganhou fama com a grande divulgação feita pelos jornalistas que frequentavam e serviu de modelo para espaços semelhante em varias cidade. Em Paranaguá já existia um local onde os faladores, comentaristas e críticos se reuniam quase diariamente. Ficava na praça Fernando Amaro, em frente ao Cafe do Alcides, um português muito simpático e amigo de todos. Na praça parnanguara a reunião de amigos revelava a enorme capacidade dos parnanguaras para dar apelidos. Poucos dos frequentadores do cafe do Alcides podiam ser chamados pelo nome que todos sabiam de quem se travava. Geralmente prevalecia o apelido como; Pingo, Mãe do Diabo, Cornetinha, Marmita, Peixe Boi, Cara de Chuva, Empadão etc. Ali se contavam as mais incríveis histórias de como pessoas recebiam apelidos. Uma das mais antigas e famosas é a do cidadão, muito bem vestido( seria um juiz) com uma doença que aumentou os nódulos nas mãos. O homem desceu do trem e pediu um carregador de malas. Foi com ele andando duas quadra até chegar na praça Fernando Amaro onde se situava o Hotel Palácio, local de hospedagem do nosso personagem. O carregador chegou na frente colocou as malas na frente do balcão. O recepcionista pergunta: “De quem são essas malas?” – “São daquele “mão de gengibre que vem ali” – responde o carregador.