por Juca Kfouri
O provérbio é português e o compositor e humorista Gordurinha acrescentou que “baiano burro garanto que nasce morto”.
Eduardo Paes, o alcaide do Rio, não é compositor nem humorista.
Mas já ficou nacionalmente célebre por falar antes de acionar os neurônios, de tão “ishperto” que julga ser. Maricá e os cangurus australianos estão aí para provar.
A abertura da Vila Olímpica nas condições em que se deu demonstra o grau de improvisação de seus responsáveis.
Basta dizer que o autor da primeira derrota da organização dos Jogos foi também o artífice, segundo depuseram os envolvidos, do primeiro escândalo da Rio-16, quando os arquivos da Olimpíada de Londres foram furtados e copiados a mando dele, de Mario Cilenti, o argentino que caiu nas graças deCarlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do comitê organizador –situação inédita em mais de 100 anos das Olimpíadas modernas.
Pau que nasce torto…
Afastado agora do posto de chefe da Cidade Olímpica, é risível ouvir Nuzman dizer que não interessa buscar culpados, mas achar as soluções.
Cilenti jamais deveria ter ficado em qualquer cargo após o escândalo que puniu só os peixinhos, os que cumpriam ordens, como habitual.
Depois de passar uma semana para aprofundar o complexo de vira-latas em Estocolmo, a volta ao patropi é desanimadora.
Ver de lá a crônica de uma bagunça anunciada porque organizada pelos mesmos que fracassaram no Pan-2007 não chega a surpreender. Pau que nasce torto…
Mas ler, nesta Folha, em artigo do diretor de comunicação do CoRio-16, que “os melhores velejadores do mundo, pela honra de navegar sob os olhos do Cristo, de braços abertos sobre a Guanabara, aceitam conviver com águas que poderiam estar bem mais limpas” é de indignar.
Numa só sentença há duas inverdades espetaculares: que os “velejadores aceitam” e que as águas poderiam estar “bem mais limpas”.
De fato, a águas estão é imundas, e não sobra alternativa aos competidores.
Resta apenas torcer para que não tenhamos mais motivos para nos envergonhar.
Porque, caso contrário, a síndrome da cadela no cio virará epidemia e tomará conta dos desorganizadores da Olimpíada e de parte da imprensa ocupada em ocultar ou minimizar as barbaridades, com gracinhas ou mentiras.
Sem a menor intenção de comparar a Suécia com o Brasil, bate uma profunda tristeza ao simples olhar as águas de lá e as de cá. Águas e métodos.
Por que raios nossas empreiteiras, além de serem parceiras de tanta roubalheira, são incapazes de entregar suas grandes obras a tempo e em condições aceitáveis? Roubam e nem fazem?!
É de se pensar que quando tudo acabar, e reitere-se o desejo de que sem nenhuma morte de atleta, sobre tempo para uma Operação Medalha de Lata, já que da Copa do Mundo a Lava Jato se ocupa.
Porque parece claro que, com tanto pau que nasceu torto, tem muito cartola, e político brasileiro, que se julga tão esperto como o baiano burro que nasce morto.
Não se esqueça que grande parte da Rio-16 é feita com o seu, o meu, o nosso sofrido dinheirinho.
Que, somados, valem um dinheirão.
*Publicado na Folha de S.Paulo