Do blog Cabeça de Pedra
Tinha um caderninho fechado com um elástico. Pequeno. Guardava longe da vista dos familiares. Mas alguns tinham notado e, com o tempo, foi crescendo o mistério sobre o que estava escrito naquelas páginas – que não eram muitas. De vez em quando ele olhava para o objeto. Mas não abria. Deixava da mesma maneira que trouxe de uma longa viagem além oceano. Era um observador, uma espécie de retratista de cenas, situações, locais. Talvez ali tivesse anotado o que mais lhe falou à alma na longa travessia que fez sozinho pela primeira vez por aqueles países distantes – e que ele só conhecia por flashes em filmes. Ficou velho, doente – e ninguém se atrevia a perguntar o que estava escrito nas pequenas páginas e o que queria fazer com ele. Perto da morte, pediu a um dos filhos que o caderno fosse cremado junto. Determinou até o bolso em que fosse colocado. O herdeiro então se atreveu a questionar o que havia naquelas páginas. O velho respondeu que era seu primeiro livro.