de José Maria Correia
E então, de repente, não mais que de repente, bateu aquela antiga sensação de incompletude que sempre me assola.
A velha conhecida que me acompanha em madrugadas insones e leva os lobos solitários a uivarem para a lua indiferente.
E ainda acomete os senhores gentis que, sentados em um banco de praça qualquer, abstraídos, olham para o nada.
Sou um desses, entre tantos outros, que ensimesmados nas manhãs de sol tentam aquecer suas almas invernais nesses espaços coletivos de encontros frustrados .
É ali, onde esquecido do jornal sobre os joelhos, me pego fitando os rostos desconhecidos emoldurados nas janelas dos ônibus urbanos.
Me reconheço entre as tantas expressões de melancolia, mas não reencontro quem inutilmente procuro nesse exercício tolo de me reencontrar.
Ao acordar vejo no trágico espelho o cansaço das décadas na face – e o mapa da vida mostrando os vincos e as marcas da exaustão do passado tão distante .
Mas é também nessas manhãs de ausências que as miragens da juventude teimam em não desaparecer de minha memória, para não me deixar esquecer o que não voltarei a ser, nunca mais, embora tenha gostado tanto no pouco que durou.
Never more.
Eu que tanto sei e vivi tantas vidas em uma.
Nunca soube por que os suicidas descalçam os sapatos.
Mas li todos os bilhetes e as cartas de enganos e perdas que encontrei em vestes abandonadas nas morgues, antes que as apagasse o tempo, daqueles que desistiram de existir.
Em minha rua não há uma tabacaria com cruzes na porta, Fernando.
Porém, de vez em quando passa o carteiro.
Ah! como eu gostaria de receber uma carta de amor aos dezoito anos.
De me perder outra vez entre sonhos e fantasias.
De voltar a me iludir em utopias.
E de dançar distraído para os astros e as estrelas …
Grande Zé Maria….. sempre com uma bela lavra ….parabéns. joao feio