A dúvida era uma só: andou ou não de bonde no Rio de Janeiro? A memória já estava falhando e sobre o assunto ele só tinha uma referência: a foto de seu pai, chapéu e jaquetão de seis botões, ao lado de um primo, baixinho, bigodão vasto, elegância total no terno – ele era motorneiro. Começou a pesquisar e acompanhou toda a evolução deste meio de transporte na então capital federal. Pelas datas, sim, provavelmente tinha andado, porque sempre ia para lá nas férias e… Então lembrou do bonezinho do parente comandando o veículo sobre os trilhos com aquela manivela. O bonde todo aberto, bancos de madeira, o ar, mesmo quente, entrando, e muita gente preferindo viajar em pé nos estribos do lado de fora. Nessa veio a lembrança total porque ele, ainda criança, estava em pé ao lado do motorneiro, rodando pelas ruas do centro velho até chegar em Botafogo e a baía ainda não poluída aos pés do Pão de Açúcar. Sim, ele andou de bonde e, agora, quando vai Rio de Janeiro, fica sempre dentro da lata fechada dos ônibus que voam pelas ruas, ou então no táxi cujo motorista sempre conta algum tipo de vantagem. Sente saudade, mas é tarde.
Ele esqueceu de contar do cobrador andando nos estribos de bonde com o dinheiro trocado entre os dedos. Ops, entreguei minha idade, mas eu era criança na época. Lembrei de mais uma do bonde, tínhamos que correr e saltar para dentro do bonde andando e também saltava-se para descer, o bonde não parava muito e era lento.