A mãe achava que ele jamais daria qualquer passo de dança no salão, seja ele qual for. O motivo ela descrevia da maneira que sabia – direto e forte: “ele tem um cabo de vassoura no espinhaço”. Era assim até o dia em que, sozinho numa sala, viu um disco e colocou o vinil na vitrola para rodar. Deu-se o milagre. Ficou dançando sozinho como um alucinado – e nunca mais parou. Por isso, nos seus sonhos de adolescente, dizia que, se um dia os Rolling Stones viessem ao Brasil, estaria lá, nem que fosse no meio da floresta amazônica. Até agora foi ver a banda inglesa nas quatro vezes em que se apresentaram no país. Juntando um show ao outro, requebrou cerca de dez horas seguidas, como se estivesse num transe iniciado naquela sala ao ouvir o album It’s Only Rock ‘n’ Roll. O cabo de vassoura se esfarelou e injetou o doce veneno da música que faz remexer – para liberar os demônios. Assim foi. Assim é. Para sempre.